domingo, 30 de dezembro de 2012

Teólogos papagaio de pirata


Geralmente, papagaios repetem boa parte das palavras que mais dizemos. Estudos mostram que papagaios podem aprender várias palavras, assobios e outros sons. Eles não são inteligentes, os chamaria de receptivos.

Quando resolvi estudar teologia. Fui para o Seminário Teológico Batista em São Paulo. Confesso, tive professores impressionantes – não dá para mensurar este adjetivo. Infelizmente, alguns nem sei por que estavam lá – talvez para testar minha paciência. Porém, insisti e me formei em teologia.

Aulas sempre são aulas. A história da teologia toma conta de grande parte do conteúdo, isto é informação. Somente aqueles excelentes professores – que não estão ali apenas para conseguir sustento, ainda que faça parte – conseguem conduzir os alunos rumo à instrução.

Todavia, percebi que muitos alunos se alegravam mais com as informações (repetições de pensamentos de teólogos) do que em serem instruídos ao pensamento teológico. Nisso surge minha analogia de teólogos como papagaio de pirata. Por que papagaio de pirata? O teólogo hoje vive sobre o ombro de uma denominação a repetir o pensamento de teólogos de fama. Eu sempre questionei: por que chamar de teologia o que muitas vezes é reflexão pastoral?

Parece que aprender a repetir dá um ar de grandiosidade – no caso do papagaio, esse sentimento fica com seu dono.

Muitos dos alunos que conheci, durante minha caminhada de aluno, também aprenderam a arte da repetição. A repetição soa como a sabedoria verdadeira. Quando estes colegas pregavam ou ensinavam em suas igrejas e conferências, sentia-se neles o ar de superioridade. Porém, repetir não é saber. Repetir é papagaiar, tagarelar.

Teologar não é meramente repetir o que outros teólogos disseram. Fazer teologia não é apenas encher-se de informações antigas de teólogos do passado. Precisa haver mais instrução do que informação. Informação pode até conduzir à formação, mas apenas a instrução gera transformação. Uma mente teológica, apenas, pode superar o falatório, e pensar por si mesma.

O teólogo que preza ser chamado teólogo, não se sustenta apenas em concordar com o passado – ainda que respeite o passado. Ele sempre busca por si mesmo, mesmo que chegue ao mesmo lugar já chegado anteriormente por outros. Ainda há mais para pensar, há mais para saber. Essa busca constante faz parte do ser teólogo.

Para ilustrar, comparo o verdadeiro teólogo com o personagem do seriado de televisão dos anos 70, “Tenente Columbo”. Lembra dele? O teólogo tem que incomodar ser persistente, investigativo, questionador e  ser crítico. Sabe por quê? O teólogo tem que descobrir e saber interpretar (hermenêutica) e não um mero repetidor tagarela.

Onde há teólogos verdadeiros e autênticos há incomodo e mal-estar para muita gente. O autêntico teólogo não se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo papagaio de pirata e nem faz teologia de corte, apenas repetindo frases de efeito para agradar a cúpula da igreja, ou melhor, para não ferir as normas, os dogmas e as doutrinas.

Ter ares de sabedor por repetir informações não faz de alguém um teólogo – talvez um papagaio. Um teólogo talvez não seja feito pelo que recebe de informações. Mas sua capacidade em perceber instruções mesmo nas informações. Questionar dogmas. Enfrentar a hipocrisia. Não tolerar a letargia epistemológica. Fugir à mera gnose espiritualista. Pensamentos por mais belos e corretos que sejam ainda são pensamentos, e sempre podem ser repensados, questionados.

Repensar. Esta é uma capacidade que, particularmente, entendo, deve ser cultivada pelo teólogo. Sempre repensar o que já foi dito e escrito por outros teólogos - também outros estudiosos de outras áreas do saber. Apenas isso distancia um teólogo de um papagaio. Aprende que as informações são úteis, apenas se a instrução fizer parte delas. O passado auxilia. No entanto, o teólogo não vive no e nem do passado. É um ser do presente. Que enfrenta problemas presentes com pessoas presentes e reais, numa igreja atual. Portanto, pensar para hoje, isso faz um teólogo, que me parece não apenas ser feito por si, mas por todos aqueles que junto a ele compartilham a graça de crescer no conhecimento e na prática da vontade do Criador.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Pobres profetas


Eles já tiveram status de primeira grandeza na Bíblia; não andavam de automóvel último tipo e não possuíam grandes aeronaves (como alguns nossos contemporâneos). Caminhavam com passos cansados. Uns eram medrosos, outros, tão angustiados que se escondiam em cavernas... Porém, todos, tinham algo em comum, eram genuínos, autênticos. Nem precisava se auto-proclamarem profetas, pois tal qualidade lhes era tão peculiar que saltava aos olhos. Primavam pela humildade ao invés da arrogância. De fato eram apenas instrumentos d’Ele.

Hoje também há profetas (dizem), mas quem sabe? Quem atirará a primeira pedra? Profetas profanadores... alquimistas da palavra não escrita.

Há profetas...? Homens que se vestem de santidade – profetas boquirrotos. Pilhadores da fé alheia, depenadores de incautos, incultos.

Profetas gritadores, gritalhões; plantadores de verbos malfeitos, advérbios imperfeitos, substantivos nada substanciais.

Eles sobejam, bafejam “anjos”, trafegam pelas vias celestiais do inusitado, trazendo para a espantada platéia a cura – cura pelo vento: vento de doutrina, de falsos ensinamentos. Eles curam! Curam? Sim, eles curam doenças imaginárias – imaginadas por eles. Enfermidades subjetivas, que se encontram no recôndito invisível das entranhas: veias entupidas, rins “estragados”, vesículas carcomidas, câncer não diagnosticados. Curam tudo...

Eles libertam... de todos os demônios: do colesterol, do álcool, da prostituição, da depressão, da loucura, do triglicérides, do ácido úrico. Amarram, expelem, algemam, prendem. Não, não prendem. Eles dialogam com as entidades, num clima de quase respeito, quase camaradagem, velhos conhecidos...

Os profetas fazem tudo: pregam (histrionicamente), ministram (insanamente), derrubam (espantosamente) e gritam (insistentemente).

Só lhes falta uma única qualidade, uma somente: eles desconhecem a graça, como dom gratuito do Soberano. Assim, eles vendem a ideia da salvação ministrada por eles, porque eles são o canal, eles os intermediadores, eles fazem e eles acontecem.

Serão eles autênticos profetas?




Quer ser um pregador de sucesso?


Chegou o manual que ensina como vencer sem muito esforço, com simples passos para iniciantes na arte de gritar. Esqueça os esquemas fracassados de mensagem expositiva. Esqueça aquelas mensagens que reflete profundamente em um texto da Bíblia, isso é coisa de quem ainda não participou do reteté.


- Grite o mais alto que você puder. Diga que gosta é de ver caixas de som estourando!
- Critique quem ouse não gritar como você. Critique aqueles que não fazem o papel de papagaio das suas apresentações. Chame essas pessoas de “boca de ferro”, “lábios de aço”, “garganta de chumbo”.
- Não prepare sermão. Nada de ler a Bíblia e estudá-la. Chegue ao local para pregar e diga que não gosta de esboços e prefere ser “guiado pelo Espírito Santo”. Faça até melhor: Diga que preparou uma mensagem, mas que está sendo guiado para outra mais inspirada.
- Assista todos os DVDs daquele congresso inspirador que acontece em um balneário de Santa Catarina. Nesse congresso vão sempre os “supra-sumos” da pregação gritaral. Procure imitar cada passo que você vê nesses pregadores dos DVDs.


- Compre um CD com aquelas músicas que tocam ao fundo das pregações daquele congresso acima citado. Você verá como vai ficar bem parecido com seus ídolos.
- Aliás, não deixe de gravar DVDs e coloque na capa o título nada modesto de “conferencista internacional”. Lembre, que aquela viagem com os muambeiros paraguaios já faz com que você torne-se uma estrela internacionalmente conhecida.
- Assista desenhos animados japoneses, pois aqueles personagens ensinam alguns golpes que você pode imitar no púlpito. Mas não pronuncie aquelas palavras japonesas, diga que é “poder de Deus”.
- Não leia a Bíblia e nem estude as Sagradas Escrituras, pois você já sabe que a “letra mata”, mas apesar disso, compre um diploma de doutor em divindade por dois mil reais nessas faculdades fajutas que anunciam na internet. Nada de perde quatro anos num banco de faculdade de teologia!
- Cite a Bíblia nas suas pregações, mas não precisa se preocupar com correta interpretação. Espiritualize todas as suas interpretações que você inventará na hora.
- Conte muitos testemunhos e tristemunhos. Conte aqueles milagres espetaculares que aconteceram no seu ministério, quando você pregou do outro lado do país. Tome todo o tempo com essas histórias impactantes e comoventes. Aliás, sempre fale com muita emoção na voz.
O “Ministério da Palavra” adverte: Esse manual causa problemas na vida de um pregador que queira ser fiel a Deus. Portanto, faça tudo ao contrário dessas regras. Persistindo os sintomas, procure um psiquiatra mais próximo de você.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O céu na mente primitiva

Houve um tempo em que as pessoas olhavam para o céu e pensavam que o que viam era a parte de baixo do assoalho do mundo dos deuses. E entenda isso literalmente.

Era como se o céu fosse o teto do seu apartamento; o vizinho do andar de cima seria um deus.

Até hoje as religiões cristãs, por exemplo, mantém um vínculo bastante estreito com essa visão pré-histórica da realidade. Da sua principal oração, “pai nosso, que estais no céu”; passando por frases litúrgicas, “Hosana nas alturas”, “corações ao alto”; por todas as alusões presentes no seu livro sagrado, com Jesus “subindo aos céus” depois da ressurreição, ou de lá “descendo” no dia do Juízo; até cacoetes indisfarçáveis, como o de elevar na direção das nuvens mãos postas e olhos suplicantes, tudo isso ilustra a estagnação de uma parte bastante significativa da mente religiosa, presa há um tempo em que as pessoas morriam velhas com menos compreensão do mundo do que têm, hoje, crianças de nove, dez anos de idade.

Nossos mais longínquos antepassados, pelo menos, estão justificados do seu equívoco: os sentidos eram suas únicas fontes de informação. E eles viam cair coisas lá de cima, como chuva, neve, granizo, raios, meteoritos; ouviam trovões e contemplavam relâmpagos; admiravam-se do globo incandescente que tudo iluminava durante o dia, e daqueles pontinhos brilhantes, também lá no alto, à noite; além daquele outro disco de luz mais branda, que mudava de forma de tempos em tempos, e que, às vezes, simplesmente desaparecia do céu noturno, deixando-os todos entregues à escuridão.

Deveria, então, haver alguém ali em cima. Senão, como se justificaria tudo aquilo?
Eles não tinham nada mais com o que contar além da própria imaginação.
Hoje, mesmo com todo o conhecimento já acumulado pela humanidade, e com a relativa facilidade de acesso a ele, o fato de que ainda existam pessoas que acreditam que deuses ocupam um mundo sobrenatural no “andar de cima”, cujo céu é o piso que se abrirá, um dia, e por onde elas entrarão nesse reino encantado, não é tão embasbacante quanto a constatação de que essas pessoas são a grande maioria de nós.

Estela suméria 2300a.C.
reverência ao céu e aos astros
A razão para isso, entretanto, tem duas faces bem definidas e bem conhecidas. A primeira, a necessidade inata do ser humano de entender o mundo à sua volta e de não aceitar a morte como seu próprio fim, o que acabou nos tornando exímios criadores de mitos. A segunda, a oportunidade que vários espertalhões aproveitaram de, usando esses mitos, subjugarem aldeias, tribos e nações com pouquíssimo esforço; e, como se isso já não fosse muito, de tornarem-se ricos, influentes e poderosos vendendo uma ilusão.

São as religiões que fomentam, motivam e promovem tal estado autoinduzido de abestalhamento hipnótico coletivo, de ignorância voluntária, de raciocínio surpreso e de satisfação fingida, causando esse distúrbio mental — essa doença — em que o cérebro de um ser humano do século XXI não consegue assimilar plenamente o seu próprio tempo, absorto que está nesse sonho antigo de importância, imponência e imortalidade.

Essas mentes pré-históricas estão necrosadas num passado absurdamente remoto, quando a humanidade dormia ao relento, fugia de feras e se alimentava do que encontrasse pelas savanas da África; uma humanidade indefesa e ingênua que, de tão temerosa dos perigos das trevas da noite, passou a adorar, embevecidamente fascinada, o brilho ofuscante do primeiro de tantos outros deuses que ainda iria criar: o Sol.


Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3fatosemfoco@gmail.com




domingo, 25 de novembro de 2012

Quando Jesus se tornou Deus

Ícone do séc. IV d.C.
Todo estudante de teologia tem suas questões. O problema é que nem todas as respostas são satisfatórias, por duas razões: primeira, falta de preparo dos professores, que por estar inserido num contexto denominacional tem a visão curta e não consegue enxergar muito longe; segunda, não ferir os interesses da instituição contradizendo os ensinamentos tradicionais.
Estudei teologia no Seminário Teológico Batista em São Paulo, uma instituição séria, conservadora e muito respeitada. Naquela época as minhas questões eram, entre outras, a Controvérsia Ariana. As respostas sempre foram: a “Controvérsia Ariana foi um caso de heresia”.
A cada dia meus questionamentos iam ficando cada vez mais complexos. Mas não tinha medo de questionar a própria crença*. Na época, tomei essa atitude como sinal de fraqueza (na realidade, eu pensava ter quase todas as respostas para as perguntas); no fim, passei a considerá-la um comprometimento real com a verdade, própria de alguém desejoso de se abrir à hipótese de que as próprias posições têm de serem revistas à luz do conhecimento e dos fatos.
Durante muito tempo eu sempre voltava a meu questionamento básico: a Controvérsia Ariana. Essas dúvidas me afetaram e me levaram a mergulhar, cada vez mais, em busca da verdade. Foi aí que decidi abandonar a minha formação religiosa e passar para uma formação acadêmica sem os limites de uma instituição religiosa com seus conservadorismos.
Eu estava apaixonado pelo conhecimento. Se aprender a verdade significasse não mais me identificar com os cristãos, que assim fosse. Meu interesse era avançar em minha busca da verdade.
Uma reviravolta aconteceu quando descobri qual era o verdadeiro significado da Controvérsia Ariana. Uma vez admitido isso, as comportas se abriram.

O Concílio de Nicéia

Foi no Concílio de Nicéia (325 d.C.) que se deram os passos decisivos no sentido de criar uma religião unificada, engendrada de forma a servir ao Imperador como forma de domínio político, religioso e social.
O deus do Império deveria ser suficientemente forte para opor aos deuses do Olimpo, ao YAHWEH dos hebreus e a Buda do Oriente. Misturando as divindades orientais com as antigas histórias de Moisés, Elias e Isaías, foram assim convenientemente criados os símbolos da nova igreja romana. De igual modo, para a fabricação desta nova religião, assimilaram-se práticas do paganismo mais convenientes, enquanto, em paralelo, todas as filosofias contrárias ao interesses da Igreja e do Império eram suprimidas ou destruídas.
O Concílio de Nicéia constituiu-se como o primeiro de vinte e um concílios (oficialmente reconhecidos) realizados ao longo dos séculos com o fim de fabricar e consolidar a doutrina de uma nova religião concebida para o fácil controle das populações. Iremos ver como nele foram instituídas as primeiras “ferramentas” facilitadoras da criação de um Deus.

O verdadeiro propósito da Controvérsia Ariana

Como resultado de uma controvérsia entre os líderes da Igreja em Alexandria, Ário, Alexandre e Atanásio, secretário e sucessor de Alexandre. Uma discussão se sucedeu, Ário defendia a tese que Jesus, embora grande, era inferior a Deus. Alexandre e Atanásio, pelo contrário, opuseram afirmando que Jesus era igual a Deus. A grande pergunta de Ário: “Se existe um Pai e um Filho, então existem dois deuses. Se existem dois deuses, então o Cristianismo não pode ser monoteísta (um único Deus) e sim politeísta (vários deuses) como na religião pagã?”
Em 318 d.C., a controvérsia veio à tona. Ário afirmou que se Jesus era realmente Filho de Deus, então deveria haver um tempo em que havia um Pai, mas nenhum Filho. O Pai, portanto, era maior que o Filho.
O significado da controvérsia eram dúvidas em relação à natureza de Jesus. O problema era: Jesus é da mesma substância ou é parecido em substância, com Deus? Essa era a questão em discussão. A controvérsia foi tratada em cima de termos do idioma grego, e como foi expressa em grego, toda a questão girava em torno de uma simples palavra. A palavra que expressava a crença de Alexandre é HOMOOUSION. A palavra que expressava a crença de Ário é HOMOIOUSION. Homoiousion (de substância parecida) e homoousion (da mesma substância).
É importante observar a sedução intelectual da filosofia grega sobre a teologia do quarto século. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos filosóficos pagão haviam recebido atenção e exercido influência na Igreja.
A doutrina de Ário dizia que Jesus era um ser criado. A doutrina de Atanásio dizia que Jesus não fora criado e sim era um ser igual e eterno, como Deus seu Pai. No Concílio de Nicéia a doutrina de Ário foi rejeitada. Caracterizaram Jesus como da mesma substância do Pai. Estabeleceram que há somente um Pai (a distância entre  o Pai e o Filho está dentro da unidade divina); o Filho é Deus e Deus é o Filho, o Filho foi gerado e não feito (aqui não vejo qual diferença há entre gerado e feito); se Jesus foi gerado ele é Filho de Deus, então existe dois deuses, e aí onde fica o monoteísmo? ; se Jesus foi criado, então, não pode ser Deus é uma criatura. Deste ponto até a criação da teoria da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) foi um pulo.
Os cristãos que discordaram dessa decisão foram perseguidos e exilados. E os escritos de Ário foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que fosse apanhado com documentos arianitas estaria sujeito à pena de morte.
Por influência de Constantino, o Cristianismo entrou no desvio, da mesma forma que acontecerá com o judaísmo. Surgiu o profissionalismo religioso, as práticas pagãs, como rituais e rezas, que foram assimiladas ou adaptadas. Montaram uma estrutura dogmática para atender aos interesses da classe religiosa que impunha aos fiéis com afirmações: “fora da igreja não há salvação”. A crença* (mais precisamente a crença cega) foi declarada o grande baluarte da salvação: “gredo quia absurdum”, ou seja, “acredito mesmo que seja absurdo”, criado por Tertuliano (155-220 d.C.).
A divindade de Jesus nunca foi fato nem consenso. A instituição de sua divindade foi um ato político/religioso, de poder. Deixaram os ensinamentos de Jesus de lado para institucionalizarem o Cristianismo. Montaram uma estrutura para que a igreja que surgia tivesse poder e dinheiro, ou seja, o Cristianismo já tinha em seu seio pessoas más intencionadas, e poder e dinheiro atraem pessoas más que gostam de fazer mal uso dele. E o Cristianismo perdeu a sua essência e nele se instalou a hipocrisia.

*Observação: A palavra "FÉ" foi substituída pelas palavras "crença e crer". Por que "FÉ", significa "FIDELIDADE", vem do latim "FIDES".

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domingo, 11 de novembro de 2012

Dogma da Trindade

Representação da Trindade Divina
Nesta postagem vamos ver que e Dogma da Trindade como pregada pela igreja católica, pelo protestantismo e por várias denominações evangélicas não tem base bíblica. Na verdade, a palavra “Trindade” nunca aparece na Bíblia. Esta doutrina é completamente estranha aos israelitas do Antigo Testamento e ausente do Novo Testamento. Nesta seção mostraremos como o Dogma da Trindade foi introduzida paulatinamente na igreja cristã.
Nos primeiros séculos da era cristã o mundo estava sob o controle dos romanos. Os Imperadores daquela época perceberam que poderiam governar com maior facilidade utilizando-se da religião, unindo a Igreja com o Estado. Mas estes governantes tinham um desafio: agradar cristãos e pagãos. A forma encontrada foi adaptar o Cristianismo ao paganismo. Isso causou o que podemos chamar de paganização do Cristianismo.
No livro “History of Christianity” de Edward Gibbon, lemos: “Se o paganismo foi conquistado pelo Cristianismo, é igualmente verdade que o Cristianismo foi corrompido pelo paganismo. O puro deísmo dos primeiros cristãos... foi mudado, pela igreja católica romana, para o incompreensível Dogma da Trindade. Muitos dos dogmas pagãos, inventados pelos egípcios e idealizados por Platão, foram retidos como sendo dignos de crença”.
Desta forma, misturando o paganismo com o Cristianismo, tais imperadores conseguiram agradar o grupo de pagãos e o de cristãos. Os conceitos básicos para o estabelecimento do Dogma da Trindade surgiram dentro deste contexto como forma de conciliar o culto politeísta (vários deuses) dos pagãos com o culto cristão de adoração a um único Deus.
Flavius Valerius Constantinus (285-337 d.C), Constantino o Grande, era filho do Imperador Constâncio I. Quando seu pai morreu em 306 d.C., Constantino tornou-se imperador da Bretanha, Gália (atual França) e Espanha. Aos poucos, foi assumindo o controle de todo o Império Romano. Divergências teológicas relativas a Jesus começaram a se manifestar no império de Constantino quando dois oponentes principais se destacavam dos outros e discutiram sobre se Jesus era um ser criado (doutrina de Arius) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus (doutrina de Atanásio).
A guerra teológica entre os adeptos de Arius e Atanásio tornou-se acirrada. Constantino percebeu que seu império estava sendo ameaçado por esta divisão doutrinal. Constantino começou a pressionar as lideranças cristãs para que as partes chegassem a um acordo antes que a unidade de seu império ficasse ameaçada. Finalmente, o imperador convocou um Concílio em Nicéia, em 325 d.C., para resolver a disputa. 318 bispos compareceram, o que equivalia a apenas uns 18% de todos os bispos do império. Dos 318, apenas uns 10% eram da parte ocidental do império de Constantino, tornando a votação tendenciosa, no mínimo. O imperador manipulou, pressionou e ameaçou o concílio para garantir que votariam no que ele acreditava não em algum consenso a que os bispos chegassem.
Neste Concílio foi votado que Jesus era Deus. Pressionada por Constantino, a votação foi a favor de Atanásio. Foi adotado um credo que favorecia a teologia de Atanásio. Arius foi condenado e exilado.
Em 381 d.C., o imperador Teodósio (um trinitarista) convocou um Concílio de Constantinopla. Apenas os bispos trinitaristas foram convidados a participar. 150 bispos compareceram, foram ratificadas as decisões do Concílio de Nicéia e uma votação alterou o credo de Atanásio para incluir o Espírito Santo como parte da divindade. A Doutrina da Trindade era agora oficial para a Igreja e também para o Estado.
O Dogma da Trindade sempre foi uma pedra no sapato do Cristianismo contra a denúncia judaica e islâmica de que o cristianismo não é monoteísta (um Deus único). A partir daí, os padres da igreja por séculos lutaram contra a acusação de que a trindade era politeísta. Armados de um sofisticado platonismo cristão, eles se dispuseram, a articular uma defesa.
Os pais gregos viam uma essência e três substâncias, ao passo que os bizantinos proclamavam uma essência, ou substância e três pessoas. Para os bizantinos, a Trindade compreendia três sujeitos; para os gregos, três objetos – mas a diferença era, basicamente, lingüística e, na prática, nada marcante.
A Trindade é tão sedutora para a imaginação quanto qualquer outro politeísmo, e gregos e bizantinos tinha culturas ancestrais repletas de deuses e deidades menores.
Considerando-se as igrejas cristãs de hoje, 99% delas sustentam o Dogma da Trindade, mesmo não sabendo o que constitui realmente a Trindade e suas implicações que afetam outras doutrinas fundamentais da Bíblia. Isso ocorre porque a maioria dos membros não tem a mínima noção da origem dessa doutrina, mas insistem em defender teses sobre a Trindade. Dizem ser a Trindade um mistério. O Dogma da Trindade não é um mistério, é um atentado à lógica, especialmente por violar o mais elementar conceito sobre quantidade: Três deuses constituem um só Deus.
Essa violência só seria admissível com uma explicação bíblica, para isso os trinitarianos apresentam três textos para “provar” a existência da trindade: I João 5.7; Mateus 28.19 e João 14.16.
Procedendo a uma leitura superficial do texto, tem-se a impressão da existência de uma trindade, mesmo porque o texto de I João fala que existem três no Céu e que os três são um. Mateus afirma que devemos ser batizados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. No entanto nenhuma doutrina é estabelecida baseando-se em apenas um ou dois textos da Bíblia, ou sem analise do contexto em que o texto está inserido.
E o mais interessante, é que em nenhum manuscrito grego do Novo Testamento antes do século IV citam a formula Pai, Filho e Espírito Santo. Tal formula só vem a aparecer nos manuscritos posteriores aos Concílios de Nicéia e de Constantinopla, respectivamente 325 d.C., e 381 d.C.


Antigo manuscrito grego
Percebe-se claramente que houve uma ousada tentativa de adulteração das Escrituras a fim de introduzir o Dogma da Trindade que nunca esteve claro na Bíblia. Será que esta foi à única tentativa dos padres trinitarianos? Ou será que eles tentaram adulterar outros textos para tornar do dia para a noite o Dogma da Trindade um ensino bíblico? Quantos textos bíblicos foram adulterados em favor da teoria trinitariana?
É muito difícil responder a estas questões, pois não temos os textos originais.
Os primeiros seguidores de Jesus não tinham idéia de que o conceito de trindade iria surgir ser votado por políticos, imposto por imperadores e um dia se tornaria parte integral do Cristianismo moderno. A maioria das igrejas cristãs apóia o Dogma da Trindade, mas ainda há algumas que rejeitam o ensinamento. Hoje em dia, temos a liberdade de acreditar em uma possibilidade ou outra, mas corremos o risco de sermos ridicularizados se negarmos o Dogma da Trindade.
Deus, quando estabelece a sua relação com o povo de Israel no Sinai, já deixa patente qual é a raiz do paganismo. Deuteronômio 6.4-5 aborda esta questão: “Ouve, ó Israel: IAHWEH nosso Deus é o único IAHWEH! Portanto, amarás a IAHWEH teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força” (Bíblia de Jerusalém). A raiz do paganismo é tornar Deus mais um, ou outro, centro de nossa vida, desvirtuando a sua unicidade.

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domingo, 28 de outubro de 2012

Crente mudo cego e surdo

Quando a intolerância impera. Quando a obsessão dos que creem não aceita a opção de não crer. Ou quando o fanatismo religioso de uma crença não admite opções diferentes das suas. Quando a crença de uma determinada religião massifica-se e considera-se superior a qualquer outra concorrência de credo o conflito estabelece-se. Histórias, dogmas, conceitos, tudo pré-definido pela religião, impedem o raciocínio do crente e exigem a aceitação do estabelecido pela hierarquia religiosa. Não questionar, não pensar. Aceitar. Somente crer!!!
E em nome da religião, barbaridades foram e são cometidas. Cria-se a uma cúpula administrativa religiosa e para a manutenção do seu poder é exigido o não questionamento por parte daqueles denominados fiéis. É certo que pensamos ser livres, ter o livre arbítrio, mas em questões de crença, voltamos sempre à Alegoria da Caverna de Platão. Somos incapazes de pensar. A cultura religiosa nos é imposta porque somos incapazes de compreender. Enfim, somos estúpidos. Tudo o que é preciso para crer está determinado pelos procedimentos religiosos.
Não quero nem questionar dogmas, de qualquer religião que seja. Seria perder tempo e provocar sentimentos. Porque crer enfim é um sentimento que atesta a nossa incapacidade de procurar a moral. Essa moral, como ensinava Sócrates, que poderia ser ensinada e aprendida. E daí aquele que é mau o é porque não sabe. Mas pela religião é preferível incutir a moral pelo dogma religioso, impondo restrições, aprendendo limites, determinando posturas e acrescentando o medo. Enfim, o crente é doutrinado pelo pavor, pela punição, pela obediência. Pela ignorância. O que não sabemos, para aquilo que não temos respostas, serve a religião.
Precisamos dos limites religiosos? Somos incapazes de andar com nossas próprias pernas? Precisamos sempre ter alguma instituição que nos cerceie o pensamento? Que nos proíba o raciocínio? Que nos desculpe a ganância, a maldade, a intolerância, o ódio? Precisamos transferir nossas responsabilidades? Não queremos assumir a culpa de nossas deficiências? Os valores religiosos que nos são incutidos desde o nascimento nos levam a aceitar com passividade o não questionamento quando o foco é a religião. Dogma. Crença. Respeito. Questionar jamais... Duvidar ou não crer é uma agressão... Abaixo Descartes: você não pensa, mas existe.
Será que simplesmente somos arrogantes demais para aceitarmos a morte? Falta humildade em nosso comportamento? Ou por egoísmo não queremos aceitar a finitude da vida? Qual a necessidade de sermos eternos? Somos cretinos ou estúpidos demais para existirmos como sociedade sem o controle religioso? Entendendo que o grande norte de todas as religiões é justamente a promessa da vida depois da morte, fica claro o apego religioso. É a expiação das culpas e responsabilidades do indivíduo dentro da sociedade. Vida depois da morte. Fácil assim. Sem prova alguma. Uma assertiva que não permite contestação. Somente uma palavra: Crer. Questionar jamais. Simplesmente aceitar e acreditar. Aceitar a hipocrisia que alguma instituição religiosa qualquer possa lhe desculpar todas as atitudes feitas contra seus semelhantes e garantir uma vida eterna sem culpas. Pensar o contrário ou desconfiar disso é desrespeitoso...
A espécie humana dentro da biodiversidade do planeta, por pensar mantém a sua supremacia. Esta capacidade de pensamento permitiu a análise e o conseqüente entendimento. A compreensão do habitat levou a exploração. Permitiu às descobertas. Preparou o conhecimento, que a cada vez mais em velocidade exponencial, se auto-alimenta e com ajustes, retorna para a própria sociedade em forma de hábitos de vida. Com isso saímos das cavernas e estamos indo ao espaço. Tenta-se compreender o universo. De onde viemos e para onde vamos. (Quo vadis?) Sempre questionaremos. É talvez aqui, a nossa busca pelo eterno. Nossa carga genética querendo sobreviver, procurando os meios e soluções para isso. E cada vez mais servirá menos a explicação religiosa. Ou os limites impostos por ela.

Observação: A palavra "FÉ", foi substituída pelas palavras "crença e crer". Por quê "FÉ", significa "FIDELIDADE", vem do latim "FIDES".


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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Intolerância Religiosa

Tenho vergonha em dizer que um dia fui evangélico por causa de certo camarada (camarada, termo que ele usa para referir-se a outra pessoa), que vive deblaterando e promovendo o ódio, o preconceito e o que é pior, a intolerância religiosa. A Constituição Federal (5º, VI) garante liberdade religiosa a todo cidadão brasileiro. Isso inclui o direito de escolher a religião que deseja e o de expressar as tradições e ritos da crença escolhida. Mas, isso não vem ocorrendo há anos nas prédicas do camarada. O camarada, líder de uma religião “dita verdadeira”, faz suas próprias leis, perseguindo, por pensar não serem as outras “religiões verdadeiras”, mas quem pode dizer o que é verdadeiro ou falso quando se trata de religiosidade. O “verdadeiro” está na crença de cada um, no entender o outro como seu igual, suprimindo as diferenças, respeitando o livre arbítrio.
É fácil verificar que a ideia de intolerância religiosa parte da visão que muitos têm de que a sua religião é que é a verdadeira, e não abrem mão deste padrão, não se dão a chance de conhecer as outras culturas, outras religiões; contribuindo assim para o desrespeito com as demais religiões existentes, muitas delas, mais antigas que o catolicismo e que o protestantismo.
Tolerância religiosa significa reconhecer que cada povo, cada cultura, cada comunidade tem o direito de possuir sua própria religião e um modo próprio de reverenciar suas divindades. O que é padrão para um, pode não ser para outros, e ninguém tem o direito de impor qualquer religião ou crença a quem quer que seja. Tolerância significa aceitar o que parece errado, entender que o que é errado para uns, também tem sua verdade para outros; verdade esta que não é melhor nem pior do que qualquer outra verdade, e que deve ser respeitada não por bondade ou tolerância, mas principalmente, por acreditar que todos os grupos humanos possuem iguais poderes de ligação com a natureza divina; afinal, “ligação” ou “religação” nada mais é do que “religião”.
O camarada gosta de exaltar suas virtudes para criar um fã-clube que o aplaude. Aliás, muitos dos falsos “profetas” e pregadores contemporâneos não têm rebanho, mas fã-clube. É deprimente o culto à personalidade no cenário evangélico de hoje. Outra tragédia em nosso cenário é o narcisismo, com uma incrível exibição de arrogância espiritual. Trágico ainda é o camarada arrogar-se detentor da verdade e do conhecimento. Mas o que ele sabe mesmo é enriquecer a custa da ignorância do povo.


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