Geralmente, papagaios repetem
boa parte das palavras que mais dizemos. Estudos mostram que papagaios podem
aprender várias palavras, assobios e outros sons. Eles não são inteligentes, os
chamaria de receptivos.
Quando resolvi estudar
teologia. Fui para o Seminário Teológico Batista em São Paulo. Confesso ,
tive professores impressionantes – não dá para mensurar este adjetivo.
Infelizmente, alguns nem sei por que estavam lá – talvez para testar minha
paciência. Porém, insisti e me formei em teologia.
Aulas sempre são aulas. A
história da teologia toma conta de grande parte do conteúdo, isto é informação. Somente aqueles excelentes professores – que não estão ali apenas
para conseguir sustento, ainda que faça parte – conseguem conduzir os alunos
rumo à instrução.
Todavia, percebi que muitos
alunos se alegravam mais com as informações (repetições de pensamentos de
teólogos) do que em serem instruídos ao pensamento teológico. Nisso surge minha
analogia de teólogos como papagaio de pirata. Por que papagaio de pirata? O
teólogo hoje vive sobre o ombro de uma denominação a repetir o pensamento de
teólogos de fama. Eu sempre questionei: por que chamar de teologia o que muitas
vezes é reflexão pastoral?
Parece que aprender a
repetir dá um ar de grandiosidade – no caso do papagaio, esse sentimento fica
com seu dono.
Muitos dos alunos que
conheci, durante minha caminhada de aluno, também aprenderam a arte da
repetição. A repetição soa como a sabedoria verdadeira. Quando estes colegas
pregavam ou ensinavam em suas igrejas e conferências, sentia-se neles o ar de
superioridade. Porém, repetir não é saber. Repetir é papagaiar, tagarelar.
Teologar não é meramente
repetir o que outros teólogos disseram. Fazer teologia não é apenas encher-se
de informações antigas de teólogos do passado. Precisa haver mais instrução do
que informação. Informação pode até conduzir à formação, mas apenas a instrução
gera transformação. Uma
mente teológica, apenas, pode superar o falatório, e pensar por si mesma.
O teólogo que preza ser
chamado teólogo, não se
sustenta apenas em concordar com o passado – ainda que respeite o passado. Ele
sempre busca por si mesmo, mesmo que chegue ao mesmo lugar já chegado
anteriormente por outros. Ainda há mais para pensar, há mais para saber. Essa
busca constante faz parte do ser teólogo.
Para ilustrar, comparo o
verdadeiro teólogo com o personagem do seriado de televisão dos anos 70, “Tenente
Columbo”. Lembra dele? O teólogo tem que incomodar ser persistente,
investigativo, questionador e ser crítico.
Sabe por quê? O teólogo tem que descobrir e saber interpretar (hermenêutica) e
não um mero repetidor tagarela.
Onde há teólogos verdadeiros
e autênticos há incomodo e mal-estar para muita gente. O autêntico teólogo não
se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo
papagaio de pirata e nem faz teologia de corte, apenas repetindo frases de
efeito para agradar a cúpula da igreja, ou melhor, para não ferir as normas, os
dogmas e as doutrinas.
Ter ares de sabedor por
repetir informações não faz de alguém um teólogo – talvez um papagaio. Um
teólogo talvez não seja feito pelo que recebe de informações. Mas sua
capacidade em perceber instruções mesmo nas informações. Questionar dogmas.
Enfrentar a hipocrisia. Não tolerar a letargia epistemológica. Fugir à mera
gnose espiritualista. Pensamentos por mais belos e corretos que sejam ainda são
pensamentos, e sempre podem ser repensados, questionados.
Repensar. Esta é uma capacidade que,
particularmente, entendo, deve ser cultivada pelo teólogo. Sempre repensar o
que já foi dito e escrito por outros teólogos - também outros estudiosos de
outras áreas do saber. Apenas isso distancia um teólogo de um papagaio. Aprende
que as informações são úteis, apenas se a instrução fizer parte delas. O
passado auxilia. No entanto, o teólogo não vive no e nem do passado. É um ser do presente. Que
enfrenta problemas presentes com pessoas presentes e reais, numa igreja atual.
Portanto, pensar para hoje, isso faz um teólogo, que me parece não apenas ser
feito por si, mas por todos aqueles que junto a ele compartilham a graça de
crescer no conhecimento e na prática da vontade do Criador.