domingo, 25 de novembro de 2012

Quando Jesus se tornou Deus

Ícone do séc. IV d.C.
Todo estudante de teologia tem suas questões. O problema é que nem todas as respostas são satisfatórias, por duas razões: primeira, falta de preparo dos professores, que por estar inserido num contexto denominacional tem a visão curta e não consegue enxergar muito longe; segunda, não ferir os interesses da instituição contradizendo os ensinamentos tradicionais.
Estudei teologia no Seminário Teológico Batista em São Paulo, uma instituição séria, conservadora e muito respeitada. Naquela época as minhas questões eram, entre outras, a Controvérsia Ariana. As respostas sempre foram: a “Controvérsia Ariana foi um caso de heresia”.
A cada dia meus questionamentos iam ficando cada vez mais complexos. Mas não tinha medo de questionar a própria crença*. Na época, tomei essa atitude como sinal de fraqueza (na realidade, eu pensava ter quase todas as respostas para as perguntas); no fim, passei a considerá-la um comprometimento real com a verdade, própria de alguém desejoso de se abrir à hipótese de que as próprias posições têm de serem revistas à luz do conhecimento e dos fatos.
Durante muito tempo eu sempre voltava a meu questionamento básico: a Controvérsia Ariana. Essas dúvidas me afetaram e me levaram a mergulhar, cada vez mais, em busca da verdade. Foi aí que decidi abandonar a minha formação religiosa e passar para uma formação acadêmica sem os limites de uma instituição religiosa com seus conservadorismos.
Eu estava apaixonado pelo conhecimento. Se aprender a verdade significasse não mais me identificar com os cristãos, que assim fosse. Meu interesse era avançar em minha busca da verdade.
Uma reviravolta aconteceu quando descobri qual era o verdadeiro significado da Controvérsia Ariana. Uma vez admitido isso, as comportas se abriram.

O Concílio de Nicéia

Foi no Concílio de Nicéia (325 d.C.) que se deram os passos decisivos no sentido de criar uma religião unificada, engendrada de forma a servir ao Imperador como forma de domínio político, religioso e social.
O deus do Império deveria ser suficientemente forte para opor aos deuses do Olimpo, ao YAHWEH dos hebreus e a Buda do Oriente. Misturando as divindades orientais com as antigas histórias de Moisés, Elias e Isaías, foram assim convenientemente criados os símbolos da nova igreja romana. De igual modo, para a fabricação desta nova religião, assimilaram-se práticas do paganismo mais convenientes, enquanto, em paralelo, todas as filosofias contrárias ao interesses da Igreja e do Império eram suprimidas ou destruídas.
O Concílio de Nicéia constituiu-se como o primeiro de vinte e um concílios (oficialmente reconhecidos) realizados ao longo dos séculos com o fim de fabricar e consolidar a doutrina de uma nova religião concebida para o fácil controle das populações. Iremos ver como nele foram instituídas as primeiras “ferramentas” facilitadoras da criação de um Deus.

O verdadeiro propósito da Controvérsia Ariana

Como resultado de uma controvérsia entre os líderes da Igreja em Alexandria, Ário, Alexandre e Atanásio, secretário e sucessor de Alexandre. Uma discussão se sucedeu, Ário defendia a tese que Jesus, embora grande, era inferior a Deus. Alexandre e Atanásio, pelo contrário, opuseram afirmando que Jesus era igual a Deus. A grande pergunta de Ário: “Se existe um Pai e um Filho, então existem dois deuses. Se existem dois deuses, então o Cristianismo não pode ser monoteísta (um único Deus) e sim politeísta (vários deuses) como na religião pagã?”
Em 318 d.C., a controvérsia veio à tona. Ário afirmou que se Jesus era realmente Filho de Deus, então deveria haver um tempo em que havia um Pai, mas nenhum Filho. O Pai, portanto, era maior que o Filho.
O significado da controvérsia eram dúvidas em relação à natureza de Jesus. O problema era: Jesus é da mesma substância ou é parecido em substância, com Deus? Essa era a questão em discussão. A controvérsia foi tratada em cima de termos do idioma grego, e como foi expressa em grego, toda a questão girava em torno de uma simples palavra. A palavra que expressava a crença de Alexandre é HOMOOUSION. A palavra que expressava a crença de Ário é HOMOIOUSION. Homoiousion (de substância parecida) e homoousion (da mesma substância).
É importante observar a sedução intelectual da filosofia grega sobre a teologia do quarto século. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos filosóficos pagão haviam recebido atenção e exercido influência na Igreja.
A doutrina de Ário dizia que Jesus era um ser criado. A doutrina de Atanásio dizia que Jesus não fora criado e sim era um ser igual e eterno, como Deus seu Pai. No Concílio de Nicéia a doutrina de Ário foi rejeitada. Caracterizaram Jesus como da mesma substância do Pai. Estabeleceram que há somente um Pai (a distância entre  o Pai e o Filho está dentro da unidade divina); o Filho é Deus e Deus é o Filho, o Filho foi gerado e não feito (aqui não vejo qual diferença há entre gerado e feito); se Jesus foi gerado ele é Filho de Deus, então existe dois deuses, e aí onde fica o monoteísmo? ; se Jesus foi criado, então, não pode ser Deus é uma criatura. Deste ponto até a criação da teoria da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) foi um pulo.
Os cristãos que discordaram dessa decisão foram perseguidos e exilados. E os escritos de Ário foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que fosse apanhado com documentos arianitas estaria sujeito à pena de morte.
Por influência de Constantino, o Cristianismo entrou no desvio, da mesma forma que acontecerá com o judaísmo. Surgiu o profissionalismo religioso, as práticas pagãs, como rituais e rezas, que foram assimiladas ou adaptadas. Montaram uma estrutura dogmática para atender aos interesses da classe religiosa que impunha aos fiéis com afirmações: “fora da igreja não há salvação”. A crença* (mais precisamente a crença cega) foi declarada o grande baluarte da salvação: “gredo quia absurdum”, ou seja, “acredito mesmo que seja absurdo”, criado por Tertuliano (155-220 d.C.).
A divindade de Jesus nunca foi fato nem consenso. A instituição de sua divindade foi um ato político/religioso, de poder. Deixaram os ensinamentos de Jesus de lado para institucionalizarem o Cristianismo. Montaram uma estrutura para que a igreja que surgia tivesse poder e dinheiro, ou seja, o Cristianismo já tinha em seu seio pessoas más intencionadas, e poder e dinheiro atraem pessoas más que gostam de fazer mal uso dele. E o Cristianismo perdeu a sua essência e nele se instalou a hipocrisia.

*Observação: A palavra "FÉ" foi substituída pelas palavras "crença e crer". Por que "FÉ", significa "FIDELIDADE", vem do latim "FIDES".

Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
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