Ícone do séc. IV d.C. |
Todo
estudante de teologia tem suas questões. O problema é que nem todas as
respostas são satisfatórias, por duas razões: primeira, falta de preparo dos
professores, que por estar inserido num contexto denominacional tem a visão
curta e não consegue enxergar muito longe; segunda, não ferir os interesses da
instituição contradizendo os ensinamentos tradicionais.
Estudei
teologia no Seminário Teológico Batista em São Paulo, uma instituição séria,
conservadora e muito respeitada. Naquela época as minhas questões eram, entre
outras, a Controvérsia Ariana. As respostas sempre foram: a “Controvérsia
Ariana foi um caso de heresia”.
A
cada dia meus questionamentos iam ficando cada vez mais complexos. Mas não
tinha medo de questionar a própria crença*. Na época, tomei essa atitude como
sinal de fraqueza (na realidade, eu pensava ter quase todas as respostas para
as perguntas); no fim, passei a considerá-la um comprometimento real com a
verdade, própria de alguém desejoso de se abrir à hipótese de que as próprias
posições têm de serem revistas à luz do conhecimento e dos fatos.
Durante
muito tempo eu sempre voltava a meu questionamento básico: a Controvérsia
Ariana. Essas dúvidas me afetaram e me levaram a mergulhar, cada vez mais, em
busca da verdade. Foi aí que decidi abandonar a minha formação religiosa e
passar para uma formação acadêmica sem os limites de uma instituição religiosa
com seus conservadorismos.
Eu
estava apaixonado pelo conhecimento. Se aprender a verdade significasse não mais
me identificar com os cristãos, que assim fosse. Meu interesse era avançar em
minha busca da verdade.
Uma
reviravolta aconteceu quando descobri qual era o verdadeiro significado da
Controvérsia Ariana. Uma vez admitido isso, as comportas se abriram.
O Concílio
de Nicéia
Foi no Concílio de Nicéia (325 d.C.) que se deram os passos decisivos no sentido de criar uma religião unificada, engendrada de forma a servir ao Imperador como forma de domínio político, religioso e social.
O
deus do Império deveria ser suficientemente forte para opor aos deuses do
Olimpo, ao YAHWEH dos hebreus e a Buda do Oriente. Misturando as divindades
orientais com as antigas histórias de Moisés, Elias e Isaías, foram assim
convenientemente criados os símbolos da nova igreja romana. De igual modo, para
a fabricação desta nova religião, assimilaram-se práticas do paganismo mais
convenientes, enquanto, em paralelo, todas as filosofias contrárias ao
interesses da Igreja e do Império eram suprimidas ou destruídas.
O
Concílio de Nicéia constituiu-se como o primeiro de vinte e um concílios
(oficialmente reconhecidos) realizados ao longo dos séculos com o fim de
fabricar e consolidar a doutrina de uma nova religião concebida para o fácil
controle das populações. Iremos ver como nele foram instituídas as primeiras
“ferramentas” facilitadoras da criação de um Deus.
O
verdadeiro propósito da Controvérsia Ariana
Como
resultado de uma controvérsia entre os líderes da Igreja em Alexandria, Ário,
Alexandre e Atanásio, secretário e sucessor de Alexandre. Uma discussão se
sucedeu, Ário defendia a tese que Jesus, embora grande, era inferior a Deus.
Alexandre e Atanásio, pelo contrário, opuseram afirmando que Jesus era igual a
Deus. A grande pergunta de Ário: “Se existe um Pai e um Filho, então existem
dois deuses. Se existem dois deuses, então o Cristianismo não pode ser
monoteísta (um único Deus) e sim politeísta (vários deuses) como na religião
pagã?”
Em
318 d.C., a controvérsia veio à tona. Ário afirmou que se Jesus era realmente
Filho de Deus, então deveria haver um tempo em que havia um Pai, mas nenhum
Filho. O Pai, portanto, era maior que o Filho.
O
significado da controvérsia eram dúvidas em relação à natureza de Jesus. O
problema era: Jesus é da mesma substância ou é parecido em substância, com Deus?
Essa era a questão em discussão. A controvérsia foi tratada em cima de termos
do idioma grego, e como foi expressa em grego, toda a questão girava em torno
de uma simples palavra. A palavra que expressava a crença de Alexandre é
HOMOOUSION. A palavra que expressava a crença de Ário é HOMOIOUSION.
Homoiousion (de substância parecida) e homoousion (da mesma substância).
É
importante observar a sedução intelectual da filosofia grega sobre a teologia
do quarto século. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos
filosóficos pagão haviam recebido atenção e exercido influência na Igreja.
A
doutrina de Ário dizia que Jesus era um ser criado. A doutrina de Atanásio
dizia que Jesus não fora criado e sim era um ser igual e eterno, como Deus seu
Pai. No Concílio de Nicéia a doutrina de Ário foi rejeitada. Caracterizaram
Jesus como da mesma substância do Pai. Estabeleceram que há somente um Pai (a
distância entre o Pai e o Filho está
dentro da unidade divina); o Filho é Deus e Deus é o Filho, o Filho foi gerado
e não feito (aqui não vejo qual diferença há entre gerado e feito); se Jesus
foi gerado ele é Filho de Deus, então existe dois deuses, e aí onde fica o
monoteísmo? ; se Jesus foi criado, então, não pode ser Deus é uma criatura.
Deste ponto até a criação da teoria da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo)
foi um pulo.
Os
cristãos que discordaram dessa decisão foram perseguidos e exilados. E os
escritos de Ário foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que
fosse apanhado com documentos arianitas estaria sujeito à pena de morte.
Por
influência de Constantino, o Cristianismo entrou no desvio, da mesma forma que
acontecerá com o judaísmo. Surgiu o profissionalismo religioso, as práticas
pagãs, como rituais e rezas, que foram assimiladas ou adaptadas. Montaram uma
estrutura dogmática para atender aos interesses da classe religiosa que impunha
aos fiéis com afirmações: “fora da igreja não há salvação”. A crença* (mais
precisamente a crença cega) foi declarada o grande baluarte da salvação: “gredo
quia absurdum”, ou seja, “acredito mesmo que seja absurdo”, criado por
Tertuliano (155-220 d.C.).
A
divindade de Jesus nunca foi fato nem consenso. A instituição de sua divindade
foi um ato político/religioso, de poder. Deixaram os ensinamentos de Jesus de
lado para institucionalizarem o Cristianismo. Montaram uma estrutura para que a
igreja que surgia tivesse poder e dinheiro, ou seja, o Cristianismo já tinha em
seu seio pessoas más intencionadas, e poder e dinheiro atraem pessoas más que
gostam de fazer mal uso dele. E o Cristianismo perdeu a sua essência e nele se
instalou a hipocrisia.
*Observação: A palavra "FÉ" foi substituída pelas
palavras "crença e crer". Por que "FÉ", significa
"FIDELIDADE", vem do latim "FIDES".
Neste
blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes
seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero
que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3view@gmail.com
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