Houve um
tempo em que as pessoas olhavam para o céu e pensavam que o que viam era a
parte de baixo do assoalho do mundo dos deuses. E entenda isso literalmente.
Era como
se o céu fosse o teto do seu apartamento; o vizinho do andar de cima seria um
deus.
Até hoje
as religiões cristãs, por exemplo, mantém um vínculo bastante estreito com essa
visão pré-histórica da realidade. Da sua principal oração, “pai nosso, que
estais no céu”; passando por frases litúrgicas, “Hosana nas alturas”, “corações
ao alto”; por todas as alusões presentes no seu livro sagrado, com Jesus
“subindo aos céus” depois da ressurreição, ou de lá “descendo” no dia do Juízo;
até cacoetes indisfarçáveis, como o de elevar na direção das nuvens mãos postas
e olhos suplicantes, tudo isso ilustra a estagnação de uma parte bastante
significativa da mente religiosa, presa há um tempo em que as pessoas morriam
velhas com menos compreensão do mundo do que têm, hoje, crianças de nove, dez
anos de idade.
Nossos
mais longínquos antepassados, pelo menos, estão justificados do seu equívoco:
os sentidos eram suas únicas fontes de informação. E eles viam cair coisas
lá de cima, como chuva, neve, granizo, raios, meteoritos; ouviam trovões e
contemplavam relâmpagos; admiravam-se do globo incandescente que tudo iluminava
durante o dia, e daqueles pontinhos brilhantes, também lá no alto, à noite;
além daquele outro disco de luz mais branda, que mudava de forma de tempos em
tempos, e que, às vezes, simplesmente desaparecia do céu noturno, deixando-os
todos entregues à escuridão.
Deveria,
então, haver alguém ali em
cima. Senão , como se justificaria tudo aquilo?
Eles não
tinham nada mais com o que contar além da própria imaginação.
Hoje,
mesmo com todo o conhecimento já acumulado pela humanidade, e com a
relativa facilidade de acesso a ele, o fato de que ainda existam pessoas que
acreditam que deuses ocupam um mundo sobrenatural no “andar de cima”, cujo
céu é o piso que se abrirá, um dia, e por onde elas entrarão nesse
reino encantado, não é tão embasbacante quanto a constatação de que essas
pessoas são a grande maioria de nós.
Estela suméria 2300a.C. reverência ao céu e aos astros |
A razão
para isso, entretanto, tem duas faces bem definidas e bem conhecidas. A
primeira, a necessidade inata do ser humano de entender o mundo à sua volta e
de não aceitar a morte como seu próprio fim, o que acabou nos tornando exímios
criadores de mitos. A segunda, a oportunidade que vários espertalhões
aproveitaram de, usando esses mitos, subjugarem aldeias, tribos e nações com
pouquíssimo esforço; e, como se isso já não fosse muito, de tornarem-se ricos,
influentes e poderosos vendendo uma ilusão.
São as
religiões que fomentam, motivam e promovem tal estado autoinduzido de
abestalhamento hipnótico coletivo, de ignorância voluntária, de raciocínio
surpreso e de satisfação fingida, causando esse distúrbio mental — essa doença
— em que o cérebro de um ser humano do século XXI não consegue assimilar
plenamente o seu próprio tempo, absorto que está nesse sonho antigo
de importância, imponência e imortalidade.
Essas
mentes pré-históricas estão necrosadas num passado absurdamente remoto, quando
a humanidade dormia ao relento, fugia de feras e se alimentava do que
encontrasse pelas savanas da África; uma humanidade indefesa e ingênua que, de
tão temerosa dos perigos das trevas da noite, passou a adorar, embevecidamente
fascinada, o brilho ofuscante do primeiro de tantos outros deuses que ainda
iria criar: o Sol.
Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3fatosemfoco@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário