sábado, 27 de abril de 2013

Paulo de Tarso: O Apóstolo


Ícone de Paulo de Tarso
Segundo o “Léxico Comentado” preparado pelo filólogo Dr. Steven Hoffman, especialista em grego Koiné do primeiro século, o termo “Apóstolo” do grego Apostoloi (άποστολόι), significa “enviado” ou “delegado”, indica que os assim chamados, foram enviados pessoalmente pelo próprio mestre que os enviou para realizar a tarefa. Comenta Hoffman: “O Apóstolo é aquele que tem uma experiência com o mestre, é aquele que divide o mesmo pão, compartilha o calor do mesmo fogo e está sob as luzes das mesmas estrelas...”.

E que é feito de Paulo, "o maior de todos os Apóstolos"? Pois é. A História dos Apóstolos de Jesus não tem espaço para ele. Se deixarmos de lado as pressuposições e analisarmos os fatos, torna-se quase impossível entender como é que ainda hoje se junta Apóstolo e Paulo. Ou Santo e Paulo.

Paulo chega mesmo a utilizar antigas profecias a ele próprio, nomeadamente Isaías 49.6: "também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até a extremidade da terra" (Atos 13.47-49). O problema com esta profecia é que se aplica apenas a Isaías. Não a Paulo.

Portanto, até agora Paulo tem uma questionável missão "divina" e uma falsa profecia. Que mais? Ah, sim. O grande ego e a auto-adoração. Paulo achava-se, de fato, superior aos outros Apóstolos (os verdadeiros).

"Conheço as tuas obras, o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem serem apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. [...] Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." (Apocalipse 2.2-7)

Apesar de não ter sido nomeado por Jesus, nem cumprir os requisitos posteriormente impostos por Pedro, Paulo apresentava-se sempre como sendo um Apóstolo.

Paulo era um homem inteligente. Sabia que os argumentos de autoridade contam, e por isso acompanha sempre a sua apresentação pela autoridade de Deus (algo do estilo "apóstolo não pelos homens, mas por Jesus"). Se "Deus" lhe deu uma missão através de uma visão (uma visão bastante questionável, por sinal, já que nem o próprio Paulo a relata de maneira coerente) quem o pode desafiar? Mas ao contrário da visão, que só Paulo teve, as palavras de Jesus foram ouvidas por muita gente. Todos os que o ouviram sabiam quem eram os doze Apóstolos.

Portanto, até agora Paulo tem uma questionável missão "divina" e uma falsa profecia. Que mais? Ah, sim. O grande ego e a auto-adoração. Paulo achava-se, de fato, superior aos outros Apóstolos (os verdadeiros). Chega mesmo a dizer que "trabalhou muito mais do que eles" (I Coríntios 15.10), e fala de Tiago, Pedro e João dizendo que "pareciam ser as colunas", mas que a ele nada lhe acrescentam (Gálatas 2.6-9). Não há em todo o Novo Testamento nenhum autor que use a palavra "eu" com tanta freqüência como Paulo.

Mas a derradeira prova da falsidade deste "Apóstolo" vem de João. João escreveu o Apocalipse. Se Paulo era de fato um grande Apóstolo, não há nenhuma palavra sobre a sua grandeza nesta Revelação. Há, contudo, uma referência ao seu trabalho.

Logo no primeiro capítulo João escreve às sete igrejas na Ásia. Prossegue então com uma mensagem para cada uma das Igrejas. A mais relevante para o caso é a primeira, para a de Éfeso. Diz o seguinte: "Conheço as tuas obras, o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e
 puseste à prova os que dizem serem apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. [...] Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 2.2-7).

Tem-se conhecimento apenas de uma pessoa que se dirigiu à igreja de Éfeso dizendo ser Apóstolo: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus (Éfeso 1.1).

Como se isto não bastasse, existe também este pequeno desabafa de Paulo ao seu amigo Timóteo: “Bem sabes isto, que os que estão na Ásia todos se apartam de mim” (II Timóteo 1.15).

E onde é Éfeso? Na Ásia.

Também Lucas fala sobre a dificuldade de aceitação que Paulo encontrou em Éfeso (Atos 19.1-90).

Então o que temos aqui? Paulo disse: “... sou um Apóstolo, este é o Evangelho”. A Igreja de Éfeso disse-lhe: “... vai-te embora”. E João, Apóstolo, disse-lhes, “... muito bem! é assim mesmo!”
Paulo alegou ser apóstolo em sua carta aos Efésios (Efésios 1:1), mas mais tarde, em sua segunda carta a Timóteo, Paulo declara que os na Ásia se afastaram” dele (II Timóteo 1.15). Éfeso era, na época, a maior cidade da Ásia [Menor], então isso significa que em algum momento depois de escrever sua carta, eles, os Efésios, por algum motivo, deixaram de considerá-lo como um verdadeiro apóstolo.

Note que ele não diz que os crentes na Ásia abandonaram a fé cristã, e ele não diz que eles abandonaram os apóstolos originais de Jesus. Paulo diz apenas que os crentes na Ásia abandonaram.

Por alguma razão, os Efésios deixaram de considerar Paulo como um genuíno líder cristão.
Paulo de Tarso se intitula Apóstolo de Jesus. No entanto, não é um dos doze Apóstolos escolhidos por Jesus.

Portando Paulo de Tarso não é um Apóstolo de Jesus, é um falsário um charlatão. Hoje muitos dizem seguir o Cristianismo, eu digo seguir o Paulinismo. A doutrina de Paulo é totalmente oposta à doutrina de Jesus. Paulo de Tarso contradiz tudo o que Jesus ensinou. Quer uma prova? Aliste todos os ensinamentos de Jesus, depois aliste os mesmos ensinamentos de Paulo. Verá que Paulo contradiz tudo o que Jesus ensinou.

É fato que atualmente, muitos são tidos por Apóstolos, usam a nomenclatura de Apóstolo, e realmente crêem que são verdadeiros Apóstolos de Jesus.

Tal sentimento emana das mais diversas correntes cristãs. Neste contexto, o mundo é inundado por uma febre justamente agora em que o cristianismo passa por um momento de popularização, e que muitos homens e mulheres “agregam-se” na religião do momento, a fim de estarem de acordo com a nova tendência social.

O testemunho de mais de dois mil anos de história é que Apóstolos (sujeitos) foram somente àqueles escolhidos, nomeados e comissionados pessoalmente por Jesus (Lucas 6.13).
O que compreendemos dos Apóstolos pós-modernos, está atrelado mais a natureza humana do que a vocação Divina.

Tratar como modismo o título de Apóstolos encontrados em cada esquina seria o mais brando tratamento que se permitiria.

Como, porém, poderíamos classificar os que hoje se dizem Apóstolos? Será que a Igreja poderia definir quem são de fato Apóstolos? Como poderíamos estar aptos para fazer o que a igreja primitiva não fez? Não vemos registros desta Igreja consagrando Apóstolos, ou na história posterior que tal cargo fora repassado. Só existiram os Apóstolos de Jesus, especialmente por Ele escolhido e enviados, o que faz jus ao nome assim normatizado, sendo este o significado do título.

Livros pesquisados:

Commented on Lexical Dictionary, Steven Hoffman, VanderKam Press, New York – 1968.

The Mythmaker: Paul and the Invention of Chistianity, Hyam Maccoby, Weidenfeld & Nicolson, London – 1986.

Exegese do Novo Testamento, Uwe Wegner, Sinodal, São Paulo – 2001.

domingo, 7 de abril de 2013

A Sedução do Cristianismo Através dos Séculos (primeira parte)



Praça da Basílica de São Pedro, Vaticano
O contexto teológico do cristianismo no decorrer dos séculos II e III foi praticamente rico em diversidades teológicas entre os primeiros cristãos.

Durante esses dois séculos, não havia acordo quanto a um cânone nem acordo quanto a uma teologia. Diversos grupos afirmando diversas teologias baseada em diversos textos escritos, todos reivindicando terem sido escritos pelos primeiros seguidores de Jesus.

As disputas teológicas giravam em torno da natureza de Jesus, ou seja, a humanidade e a divindade de Jesus.

Mas no fim, só um grupo “venceu” os debates. Esse grupo foi o que se aliou ao Império Romano, e que mais tarde veio a ser conhecido como catolicismo romano. Roma ganhou porque destruiu todas as evidências. Os vencedores sempre reescrevem a história e reinterpretam isso para o mundo. O Império Romano era um império pagão. Porém, era uma super potência “dominante” de seu tempo.

O grupo vencedor das disputas teológicas se estabeleceu como “ortodoxo” (significa detentor do que ele mesmo considerava como “reta crença”) determinou aquilo em que as gerações cristãs futuras acreditariam e que leriam como escrituras.

Mas o grupo vencedor, herdeiro do Império Romano, com uma vocação imperialista de dominar o mundo precisava de um marketing para crescer e esparramar mundo afora.

A expansão mundial do catolicismo se deu pelo marketing religioso, ou melhor, pelo sincretismo pagão. Que a igreja católica é uma das grandes instituições religiosas do mundo isso não se discute. 
É necessário enfatizar que catolicismo não é cristianismo. Pelo menos não o cristianismo ensinado por Jesus e seus primeiros seguidores.

Embora muitos católicos possam se sentir ofendido por esta afirmação, mas não poderíamos apoiar os ensinos e dogmas católicos, sendo que os mesmos diferem em muito dos ensinamentos primitivos. Mas então o que realmente seria o catolicismo? Como classificar suas doutrinas e ensinamentos?

A resposta para estas perguntas pode ser encontrada juntamente com as explicações para o crescimento da igreja católica romana.

A igreja católica é uma das maiores agregadoras de costumes pagãos em toda a historia da humanidade. Nunca houve uma instituição tão sincretista e capaz de tolerar as mais variadas formas de deuses cultos e costumes.

Isto começou a ocorrer depois das disputas teológicas dos séculos II e III, quando o grupo vencedor se aliou ao Império Romano que na época era imperador Constantino, o Grande (312 d.C.), e o cristianismo foi declarado religião do estado e multidões pagãs foram aceitas na igreja. Os povos pagãos foram sendo aceitos pela igreja, juntamente com seus muitos rituais e falsos deuses.

Estas misturas tornaram-se comuns dentro do catolicismo, fazendo com que os povos pagãos simpatizassem com a igreja emergente, pois poderiam perfeitamente fazer parte da religião do império e continuar adorando aos seus deuses devido à tamanha semelhança, já que praticamente quase todos possuíam imagens que os representavam dentro do catolicismo.

Esse marketing aliado ao poder emocional foi à vitória do catolicismo. Se procurarmos os fatores que resultaram no poder e na influência da igreja católica romana, não apenas sobre os seus próprios membros, mas sobre muitos outros que não têm nenhuma ligação pessoal com essa igreja, descobriremos que um dos mais importantes é o seu culto ritualístico. As vestes suntuosas, as procissões coloridas, o fausto e o simbolismo mistificante, a música pomposa, as solenes entonações dos sacerdotes em voz cantada, as velas tremeluzentes, a guarda Suíça, os sinos tilintantes, o incenso perfumado e o tamanho faraônico dos templos – tudo foi planejado para impressionar os sentidos e as emoções. Num grande templo, o culto católico romano desperta os sentidos tanto quanto qualquer espetáculo no palco ou no picadeiro de um circo. Hollywood não poderia nunca sobrepujar nem mesmo igualar, a convocação de um conclave, a chaminé com a fumaça preta ou branca, a multidão esperando o anúncio do novo papa no pátio da basílica de São Pedro e na televisão.

Cardeais no Conclave
Algumas pessoas, entretanto, ficam deslumbradas com a exibição teatral da religião e a igreja católica romana imediatamente lhes agrada. Multidões que, sem nenhum interesse na religião como tal, são atraídas pela exibição espetacular do que parece ser uma união do humano com o divino. Tudo isto em uma só exibição religiosa produzida pelo homem, um marketing religioso criado para impressionar, emocionar e seduzir o ser humano.







segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Fraude do “Santo Sudário”

Sudário de Turin
No último sábado (30/03/2013), o papa Francisco produziu um vídeo com uma mensagem especial direto da catedral de Turin (Itália), mencionando que a imagem do sudário, de um homem com lesões similares as sofridas por Cristo, corresponderia realmente a Jesus.
A igreja católica tenta a todo custo nos convencer de que, o “Santo Sudário”, seria um ícone de Jesus e não uma lenda.
A pesar de que em certos momentos, a igreja tem ficado em cima do muro, em sua segurança para não ter uma volta à trás. Admiti a veneração do sudário, mas não afirmando, definitivamente, a sua autenticidade.
Se ainda havia dúvidas, agora elas foram sepultadas de vez: o sudário – o pedaço de pano de linho que teria coberto Jesus no túmulo – é mesmo uma falsificação.
Em 1988, cientistas das universidades de Oxford, na Inglaterra, de Zurique, na Suíça, e do Arizona, nos Estados Unidos, tiveram acesso a retalhos do pano, com autorização do Papa João Paulo II. Para surpresa dos cientistas, testes de carbono 14 demonstraram que o sudário teria sido criado entre séculos XIV e XV, na Idade Média, ou seja, mais de 1200 anos depois da morte de Jesus.

A Fraude
A imagem que aparece no sudário é de um homem idoso, e para que a mortalha fosse verdadeira, a imagem apresentada teria que corresponder ao biótipo de Jesus um judeu com seus 33 anos e não a aparência de um idoso europeu.

O Jesus judeu e o Jesus europeu
O artista ao criar o sudário produziu os detalhes da cabeça, apesar da área das imagens tridimensionais serem bem maiores do que as áreas da pintura bidimensional.
Se a imagem da cabeça não fosse um desenho, mas sim, a marca deixada pela impressão do nariz sobre o tecido; a área impressa por esses “moldes” tridimensionais teria de ser maior do que a que aparece na pintura bidimensional do sudário.

Imagem formada por contato, foto: Z3 Fatos em foco
Imagem do sudário
Além do mais, depois de realizar várias experiências patrocinadas pela revista cientifica francesa “Science et Vie”, em 2005, Jacques di Costanzo, do Hospital Universitário de Marselha (França). Concluiu que o sudário é uma falsificação. Pois o artista que pintou o sudário usou o óxido férrico misturado com gelatina (colágeno bovino), para produzir marcas semelhantes ao sangue humano. Portanto, não foi detectado nenhum vestígio de sangue humano ou ácido lático, mas sim, colágeno bovino e minúsculas partículas do pigmento ocre vermelho.
É intrigante que a igreja católica, numa atitude típica dos que escondem a realidade ou teme ser desmascarado, jamais tenha tido coragem de reconhecer oficialmente o sudário como sendo autêntico ou legítimo. Tenha se limitado afirmar que o mesmo é uma surpreendente e misteriosa relíquia.
O mais interessante é que embora a igreja fuja da realidade, tenha medo e ódio da ciência e no passado tenha perseguido os cientistas. Hoje a igreja usa os mais sofisticados processos de vigilância e de preservação existentes para garantir o estado físico dessas suas falsas e fantasiosas “relíquias”.




domingo, 30 de dezembro de 2012

Teólogos papagaio de pirata


Geralmente, papagaios repetem boa parte das palavras que mais dizemos. Estudos mostram que papagaios podem aprender várias palavras, assobios e outros sons. Eles não são inteligentes, os chamaria de receptivos.

Quando resolvi estudar teologia. Fui para o Seminário Teológico Batista em São Paulo. Confesso, tive professores impressionantes – não dá para mensurar este adjetivo. Infelizmente, alguns nem sei por que estavam lá – talvez para testar minha paciência. Porém, insisti e me formei em teologia.

Aulas sempre são aulas. A história da teologia toma conta de grande parte do conteúdo, isto é informação. Somente aqueles excelentes professores – que não estão ali apenas para conseguir sustento, ainda que faça parte – conseguem conduzir os alunos rumo à instrução.

Todavia, percebi que muitos alunos se alegravam mais com as informações (repetições de pensamentos de teólogos) do que em serem instruídos ao pensamento teológico. Nisso surge minha analogia de teólogos como papagaio de pirata. Por que papagaio de pirata? O teólogo hoje vive sobre o ombro de uma denominação a repetir o pensamento de teólogos de fama. Eu sempre questionei: por que chamar de teologia o que muitas vezes é reflexão pastoral?

Parece que aprender a repetir dá um ar de grandiosidade – no caso do papagaio, esse sentimento fica com seu dono.

Muitos dos alunos que conheci, durante minha caminhada de aluno, também aprenderam a arte da repetição. A repetição soa como a sabedoria verdadeira. Quando estes colegas pregavam ou ensinavam em suas igrejas e conferências, sentia-se neles o ar de superioridade. Porém, repetir não é saber. Repetir é papagaiar, tagarelar.

Teologar não é meramente repetir o que outros teólogos disseram. Fazer teologia não é apenas encher-se de informações antigas de teólogos do passado. Precisa haver mais instrução do que informação. Informação pode até conduzir à formação, mas apenas a instrução gera transformação. Uma mente teológica, apenas, pode superar o falatório, e pensar por si mesma.

O teólogo que preza ser chamado teólogo, não se sustenta apenas em concordar com o passado – ainda que respeite o passado. Ele sempre busca por si mesmo, mesmo que chegue ao mesmo lugar já chegado anteriormente por outros. Ainda há mais para pensar, há mais para saber. Essa busca constante faz parte do ser teólogo.

Para ilustrar, comparo o verdadeiro teólogo com o personagem do seriado de televisão dos anos 70, “Tenente Columbo”. Lembra dele? O teólogo tem que incomodar ser persistente, investigativo, questionador e  ser crítico. Sabe por quê? O teólogo tem que descobrir e saber interpretar (hermenêutica) e não um mero repetidor tagarela.

Onde há teólogos verdadeiros e autênticos há incomodo e mal-estar para muita gente. O autêntico teólogo não se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo papagaio de pirata e nem faz teologia de corte, apenas repetindo frases de efeito para agradar a cúpula da igreja, ou melhor, para não ferir as normas, os dogmas e as doutrinas.

Ter ares de sabedor por repetir informações não faz de alguém um teólogo – talvez um papagaio. Um teólogo talvez não seja feito pelo que recebe de informações. Mas sua capacidade em perceber instruções mesmo nas informações. Questionar dogmas. Enfrentar a hipocrisia. Não tolerar a letargia epistemológica. Fugir à mera gnose espiritualista. Pensamentos por mais belos e corretos que sejam ainda são pensamentos, e sempre podem ser repensados, questionados.

Repensar. Esta é uma capacidade que, particularmente, entendo, deve ser cultivada pelo teólogo. Sempre repensar o que já foi dito e escrito por outros teólogos - também outros estudiosos de outras áreas do saber. Apenas isso distancia um teólogo de um papagaio. Aprende que as informações são úteis, apenas se a instrução fizer parte delas. O passado auxilia. No entanto, o teólogo não vive no e nem do passado. É um ser do presente. Que enfrenta problemas presentes com pessoas presentes e reais, numa igreja atual. Portanto, pensar para hoje, isso faz um teólogo, que me parece não apenas ser feito por si, mas por todos aqueles que junto a ele compartilham a graça de crescer no conhecimento e na prática da vontade do Criador.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Pobres profetas


Eles já tiveram status de primeira grandeza na Bíblia; não andavam de automóvel último tipo e não possuíam grandes aeronaves (como alguns nossos contemporâneos). Caminhavam com passos cansados. Uns eram medrosos, outros, tão angustiados que se escondiam em cavernas... Porém, todos, tinham algo em comum, eram genuínos, autênticos. Nem precisava se auto-proclamarem profetas, pois tal qualidade lhes era tão peculiar que saltava aos olhos. Primavam pela humildade ao invés da arrogância. De fato eram apenas instrumentos d’Ele.

Hoje também há profetas (dizem), mas quem sabe? Quem atirará a primeira pedra? Profetas profanadores... alquimistas da palavra não escrita.

Há profetas...? Homens que se vestem de santidade – profetas boquirrotos. Pilhadores da fé alheia, depenadores de incautos, incultos.

Profetas gritadores, gritalhões; plantadores de verbos malfeitos, advérbios imperfeitos, substantivos nada substanciais.

Eles sobejam, bafejam “anjos”, trafegam pelas vias celestiais do inusitado, trazendo para a espantada platéia a cura – cura pelo vento: vento de doutrina, de falsos ensinamentos. Eles curam! Curam? Sim, eles curam doenças imaginárias – imaginadas por eles. Enfermidades subjetivas, que se encontram no recôndito invisível das entranhas: veias entupidas, rins “estragados”, vesículas carcomidas, câncer não diagnosticados. Curam tudo...

Eles libertam... de todos os demônios: do colesterol, do álcool, da prostituição, da depressão, da loucura, do triglicérides, do ácido úrico. Amarram, expelem, algemam, prendem. Não, não prendem. Eles dialogam com as entidades, num clima de quase respeito, quase camaradagem, velhos conhecidos...

Os profetas fazem tudo: pregam (histrionicamente), ministram (insanamente), derrubam (espantosamente) e gritam (insistentemente).

Só lhes falta uma única qualidade, uma somente: eles desconhecem a graça, como dom gratuito do Soberano. Assim, eles vendem a ideia da salvação ministrada por eles, porque eles são o canal, eles os intermediadores, eles fazem e eles acontecem.

Serão eles autênticos profetas?




Quer ser um pregador de sucesso?


Chegou o manual que ensina como vencer sem muito esforço, com simples passos para iniciantes na arte de gritar. Esqueça os esquemas fracassados de mensagem expositiva. Esqueça aquelas mensagens que reflete profundamente em um texto da Bíblia, isso é coisa de quem ainda não participou do reteté.


- Grite o mais alto que você puder. Diga que gosta é de ver caixas de som estourando!
- Critique quem ouse não gritar como você. Critique aqueles que não fazem o papel de papagaio das suas apresentações. Chame essas pessoas de “boca de ferro”, “lábios de aço”, “garganta de chumbo”.
- Não prepare sermão. Nada de ler a Bíblia e estudá-la. Chegue ao local para pregar e diga que não gosta de esboços e prefere ser “guiado pelo Espírito Santo”. Faça até melhor: Diga que preparou uma mensagem, mas que está sendo guiado para outra mais inspirada.
- Assista todos os DVDs daquele congresso inspirador que acontece em um balneário de Santa Catarina. Nesse congresso vão sempre os “supra-sumos” da pregação gritaral. Procure imitar cada passo que você vê nesses pregadores dos DVDs.


- Compre um CD com aquelas músicas que tocam ao fundo das pregações daquele congresso acima citado. Você verá como vai ficar bem parecido com seus ídolos.
- Aliás, não deixe de gravar DVDs e coloque na capa o título nada modesto de “conferencista internacional”. Lembre, que aquela viagem com os muambeiros paraguaios já faz com que você torne-se uma estrela internacionalmente conhecida.
- Assista desenhos animados japoneses, pois aqueles personagens ensinam alguns golpes que você pode imitar no púlpito. Mas não pronuncie aquelas palavras japonesas, diga que é “poder de Deus”.
- Não leia a Bíblia e nem estude as Sagradas Escrituras, pois você já sabe que a “letra mata”, mas apesar disso, compre um diploma de doutor em divindade por dois mil reais nessas faculdades fajutas que anunciam na internet. Nada de perde quatro anos num banco de faculdade de teologia!
- Cite a Bíblia nas suas pregações, mas não precisa se preocupar com correta interpretação. Espiritualize todas as suas interpretações que você inventará na hora.
- Conte muitos testemunhos e tristemunhos. Conte aqueles milagres espetaculares que aconteceram no seu ministério, quando você pregou do outro lado do país. Tome todo o tempo com essas histórias impactantes e comoventes. Aliás, sempre fale com muita emoção na voz.
O “Ministério da Palavra” adverte: Esse manual causa problemas na vida de um pregador que queira ser fiel a Deus. Portanto, faça tudo ao contrário dessas regras. Persistindo os sintomas, procure um psiquiatra mais próximo de você.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O céu na mente primitiva

Houve um tempo em que as pessoas olhavam para o céu e pensavam que o que viam era a parte de baixo do assoalho do mundo dos deuses. E entenda isso literalmente.

Era como se o céu fosse o teto do seu apartamento; o vizinho do andar de cima seria um deus.

Até hoje as religiões cristãs, por exemplo, mantém um vínculo bastante estreito com essa visão pré-histórica da realidade. Da sua principal oração, “pai nosso, que estais no céu”; passando por frases litúrgicas, “Hosana nas alturas”, “corações ao alto”; por todas as alusões presentes no seu livro sagrado, com Jesus “subindo aos céus” depois da ressurreição, ou de lá “descendo” no dia do Juízo; até cacoetes indisfarçáveis, como o de elevar na direção das nuvens mãos postas e olhos suplicantes, tudo isso ilustra a estagnação de uma parte bastante significativa da mente religiosa, presa há um tempo em que as pessoas morriam velhas com menos compreensão do mundo do que têm, hoje, crianças de nove, dez anos de idade.

Nossos mais longínquos antepassados, pelo menos, estão justificados do seu equívoco: os sentidos eram suas únicas fontes de informação. E eles viam cair coisas lá de cima, como chuva, neve, granizo, raios, meteoritos; ouviam trovões e contemplavam relâmpagos; admiravam-se do globo incandescente que tudo iluminava durante o dia, e daqueles pontinhos brilhantes, também lá no alto, à noite; além daquele outro disco de luz mais branda, que mudava de forma de tempos em tempos, e que, às vezes, simplesmente desaparecia do céu noturno, deixando-os todos entregues à escuridão.

Deveria, então, haver alguém ali em cima. Senão, como se justificaria tudo aquilo?
Eles não tinham nada mais com o que contar além da própria imaginação.
Hoje, mesmo com todo o conhecimento já acumulado pela humanidade, e com a relativa facilidade de acesso a ele, o fato de que ainda existam pessoas que acreditam que deuses ocupam um mundo sobrenatural no “andar de cima”, cujo céu é o piso que se abrirá, um dia, e por onde elas entrarão nesse reino encantado, não é tão embasbacante quanto a constatação de que essas pessoas são a grande maioria de nós.

Estela suméria 2300a.C.
reverência ao céu e aos astros
A razão para isso, entretanto, tem duas faces bem definidas e bem conhecidas. A primeira, a necessidade inata do ser humano de entender o mundo à sua volta e de não aceitar a morte como seu próprio fim, o que acabou nos tornando exímios criadores de mitos. A segunda, a oportunidade que vários espertalhões aproveitaram de, usando esses mitos, subjugarem aldeias, tribos e nações com pouquíssimo esforço; e, como se isso já não fosse muito, de tornarem-se ricos, influentes e poderosos vendendo uma ilusão.

São as religiões que fomentam, motivam e promovem tal estado autoinduzido de abestalhamento hipnótico coletivo, de ignorância voluntária, de raciocínio surpreso e de satisfação fingida, causando esse distúrbio mental — essa doença — em que o cérebro de um ser humano do século XXI não consegue assimilar plenamente o seu próprio tempo, absorto que está nesse sonho antigo de importância, imponência e imortalidade.

Essas mentes pré-históricas estão necrosadas num passado absurdamente remoto, quando a humanidade dormia ao relento, fugia de feras e se alimentava do que encontrasse pelas savanas da África; uma humanidade indefesa e ingênua que, de tão temerosa dos perigos das trevas da noite, passou a adorar, embevecidamente fascinada, o brilho ofuscante do primeiro de tantos outros deuses que ainda iria criar: o Sol.


Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3fatosemfoco@gmail.com