segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Escatologia Cristã

Escatologia Cristã - última parte

A questão que está sempre presente na mente de todos os seres humanos é a questão relacionada com o futuro. "O passado a gente conta, o presente a gente curte, e o futuro a gente tenta avinhar"
Os cristãos creem na vida após a morte (imortalidade da alma), na segunda vinda de Cristo, na ressurreição dos mortos e no julgamento final. Mas o fato de creem nessas doutrinas não significa que todos os cristãos as aceitam do mesmo modo, em relação a forma como elas se cumprirão. Assim, ha uma variada divergência hermenêutica (interpretação), com pelo menos três escolas de interpretação: Amilenista, Pós-milenista e Pré-milenista.
Entre as maiores divisões que separam os cristãos (em especial protestantes e evangélicos) encontramos a divergência em relação ao milênio (Apocalipse 20).
Os pré-milenistas fazem uma distinção entre o julgamento dos crentes após o arrebatamento, o julgamento dos judeus e gentios convertidos no final da tribulação de sete anos e o julgamento dos incrédulos no final do milênio. O milênio será inaugurado e estabelecido com a Segunda Vinda de Cristo, após a tribulação e durará, literalmente, 1000 anos. Esta posição distingue completamente Israel e Igreja.
O pós-milenista, creem que a Segunda Vinda de Cristo ocorrerá após o milênio (não literal). Em geral, os pós-milenistas assumem a mesma postura amilenista com relação ao ensino da ressurreição, do julgamento final, da tribulação e da posição de Israel e Igreja.
Os amilenistas não fazem nenhuma distinção cronológica entre a segunda Vinda de Cristo, o arrebatamento da Igreja. Pa os amilenistas haverá apenas uma ressurreição geral, de credulos e incredulos, que ocorrerá durante a segunda Vinda de Cristo. O julgamento final será para todos os povos. O milênio (Apocalipse 20) não significa um milênio literal.
A posição escatológica mais fraca, em termos hermenêuticos, é a posição pré-milenista, devido à sua grade cronológica pré-estabelecida. Os pré-milenistas, em geral, começam com um quadro cronológico pré-estabelecido e passa a fazer uma colcha de retalhos das Escrituras, de acordo com o quadro já pré-desenhado por eles.

Por quê os evangélicos seguem o pré-milenismo?

Por uma simples razão, ignorância dos fatos históricos aliados a uma teimosia que os impede o conhecimento da verdade.
O pai da Reforma Protestante, Martinho Lutero (1517) acusava a igreja católica e o papado de ser a personificação do Anticristo. Até que o papa Paulo III, em 1545, convocou o Concílio de Trento.
Depois de 18 anos de debates, concluído finalmente em 1563, o concílio corrigiu alguns problemas, mas recusou0se reformar seus ensinamentos. A igreja reafirmou seus credos e tomaram a ofensiva, lançando o que ficou conhecido como contra Reforma.
Em 15 de agosto de 1534, Inácio de Loyola fundou a ordem católica secreta chamada Sociedade de Jesus (Jesuítas).

Representação do brasão dos Jesuítas
Os Jesuítas têm uma história escura de intrigas, sedição, perseguição e morte.
Os Jesuítas foram as estrela da Contra Reforma. No Concílio de Trento, os Jesuítas foram comissionados pelo papa para desenvolver uma interpretação nova das Escrituras que neutralizasse as aplicações protestantes do Anticristo. Francisco Ribera (1537-1591), um padre Jesuíta publica em 1590 um comentário contrário à interpretação da reforma Protestante relativo ao Anticristo. A tese de Ribera era projetar o Anticristo para um futuro distante da era Medieval.

Ribera então, foi o fundados do sistema escatológico "Pré-milenista".

Contra-capa do livro de Francisco Ribera
Segundo Ribera, tudo que segue o sexto selo de Apocalipse (cap.9) aplica-se ao breve período do Anticristo, e que o Anticristo só surgirá nos fins dos tempos.
Finalmente, Roma encontrou uma resposta para as acusações dos reformadores de que a igreja e o papa havia se tornado o Anticristo.
Os ensinamentos católicos sobre o Anticristo encontraram guarida no mundo evangélico. As igrejas evangélicas mudaram drasticamente suas crenças proféticas. Como isso aconteceu?
Tudo começou no século XIX, quando Edward Irving, tornou-se interessado na Segunda Vinda de Cristo. Infelizmente ele aceitou a escatologia futurista de Ribera.
Através de Irving, o anglicano John Nelson Darby adotou a escatologia de Ribera.
Após a morte de Darby, a escatologia futurista passou para Cyrus I. Scofileld, copilador das notas de estudo da referência biblica de Scofield.
Em 1970, o "best-seller" de Hall Lindsey, "A Agonia do Grande Planeta Terra" tem persuadido milhões de evangélicos a creem no ensinamento escatológico futurista (pré-milenismo) sobre o Anticristo. trata-se de um ensinamento divisionário da igreja católica romana incrivelmente aceito pelo mundo evangélico.


De cima para baixo, da esquerda para a direita: Edward Irving (1792-1834),  John  Nelson Darby (1800-1882),  Cyrus I. Scolfield (1843-1921) e Hal Lindsey - 1929





domingo, 25 de dezembro de 2011

Escatologia: Apocaliptica

Escatologia - Literatura Apocalíptica - terceira parte

Para entender o pensamento apocalítico temos que conhecer a história política do povo judeu. Tudo começa no ano de 586a.C. quando a Babilônia sob comando de Nabucodonosor, conquista Jerusalém. Este evento particular realmente é o que separa o período de liberdade do Antigo Israel e a identidade nacional do que se tornará o judaísmo.
A destruição de Jerusalém teve um efeito profundo no pensamento judeu. Em primeiro lugar, as promessas que tinha sido feitas a Davi tiveram que ser questionadas. Pelo que se diz "O trono de Davi duraria para sempre". Mas agora não havia mais trono. Assim o Exílio babilônico torna-se a base do desenvolvimento da teologia judia. Deus nos abandonou? É o deus babilônico mais poderoso que nosso Deus? E no processo desse pensamento, eles começaram a levar o trauma da destruição de Jerusalém e do Templo como uma reflexão teológica.


Muro das Lamentações em Jerusalém
Crônica Babilônicas de eventos do oitavo ano de Nabucodonosor

Como resultado deste trauma, a tradição judia teve que ser repensada.  sua história e parte dos textos bíblicos teve que ser reescritos. Na realidade muito das Escrituras hebraicas é produto do re-pensamento que aconteceu depois do Exílio babilônico.
O Império Babilônico que conquistou Israel, apesar da opulência, teve um reinado curto. Dentro de aproximadamente cinquenta anos depois da destruição de jerusalém, o Império Babilônico foi derrotado pelo Império Persa. É neste período, que a religião Persa (Zoroastrismo) impõe sua influência no pensamento judeu, conceitos como céu, inferno, anjos, demônios e imortalidade da alma que eram estranhos ao Antigo Israel, agora passa a fazer parte do judaísmo.
Depois de um século de guerra entre a Persa e Grécia, finalmente, Alexandre o Grande conquista o Oriente Médio.
Uma das políticas de Alexandre é, impor a cultura grega (helenismo) a estes povos.
Inicialmente, entre os judeus, há uma ênfase forte em manter a identidade judia. Mas está perspectiva mudará radicalmente no início do segundo século a.C., ao redor do ano 200 quando  os Ptolomeus que são os gregos do Egito que inicialmente tinha estado no controle de Jerusalém e Judeia passaram o domínio Grego na Síria aos Selêucidas. 


Representação das batalhas de Alexandre o Grande
Sobre os Selêucidas a experiência dos judeus é bem diferente. Em parte porque o programa de helenização dos Selêucidas é muito opressivo, e é menos tolerante com a religião judia.
E o resultado desta experiência é a revolta dos Macabeus, estes eventos estimularam um tipo de literatura que conhecemos como "Apocalíptica".

Apocalíptica

Dois livros mais populares da Bíblia são Daniel e Apocalipse. Ambos são cheios de ação, preocupados em especial com o futuro - isto é, o futuro do ponto de vista do autor ou de uma personagem do seu relato. Graças a esses elementos de futuridade, Daniel e o Apocalipse são muitas vezes considerados partes dos livros proféticos.
Ao contrário dos livros proféticos - menos Ezequiel -, dispõem as suas informações numa espécie de escala temporal - primeiro vai acontecer isto, depois aquilo -, servindo assim para fornecer um quadro cronológico. Mas, embora haja similaridade entre os profetas, de um lado, e Daniel e Apocalipse, de outro, são gêneros diferentes, porque estes últimos foram compostos para propósitos não-proféticos.


O conceito Messias no Judaísmo


Um conceito importante que precisamos fazer uma releitura é a questão Messiânica.
A palavra hebraica Mashiah significa "ungido"; o equivalente em grego é Christos, latinizado "Cristo". O título refere-se à cerimônia de coroação; o reis escolhido é ungido pelo derramamento de óleo sobre sua cabeça (I Sm 10.1), o que tem a implicação de ser o rei e seu reinado ter o apoio divino.
O pensamento messiânico no judaísmo é em grande parte produto dos séculos II e I a.C. No decorrer desse período, o conceito de messias foi trabalhado em termos de padrões escatológicos e recebeu um conteúdo muito especifico: ele deveria ser uma figura importante no cenário do fim da era. esse súbito aumento de evidência do pensamento messiânico não significa, no entanto, que grande número de judeus desses dois séculos tenha ficado sentado esperando a vinda do messias.


Representação do messias segundo o conceito antigo dos judeus
O ensinamento sobre o messias não fazia parte do culto na sinagoga e nem aparece na bíblia hebraica. Não devemos confundir uma esperança generalizada de alívio, nascida da perseguição, com uma doutrina desenvolvida. A esperança era disseminada; a doutrina, propriedade de seitas minoritárias e de escritores excêntricos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Escatologia de Israel

Escatologia de Israel - segunda parte

Para compreender a escatologia da Bíblia hebraica (Antigo Testamento cristão) é necessário dividir a história de Israel em dois períodos. O primeiro período inicia-se com a formação das tribos e se estende até o Exílio Babilônico. O segundo período, do retorno do Exílio até os dias de hoje.

Representação do antigo Israel
Antes do período do Exílio o conceito hebreu e posteriormente Israel da vida após a morte tinha sido drasticamente diferente do que se tornou durante os períodos pós-exílio.
De acordo com o conceito mais antigo, não existe a ideia de céu, inferno, salvação, perdição e imortalidade da alma. As preocupações devem ser centradas unicamente nesta vida. 
Conceitos de isolamento monástico era algo estranho. Na pratica, o objetivo é viver a vida da melhor e mais juta possível. Foi só depois do retorno do Exílio influenciados pelo Zoroastrismo e o Helenismo que os judeus passaram a crer nos conceitos da imortalidade da alma e ressurreição dos mortos, como também no céu, inferno, anjos e demônios.

Religião Persa - O dualismo cosmológico e religioso
Representação do Helenismo Grego - A apoteose de Homero
Antes dos períodos Pérsico e Helênico o conceito da vida após a morte era uma experiência sombria e escura chamada sheol. Quando uma pessoa morria, era o fim.
Como foi que o pensamento hebreu e posteriormente israelita tornou-se a doutrina pagã? Quando o pensamento israelita foi transferido para o ambiente de pensamento grego.
De modo que o ensino da Bíblia hebraica foi descartado e substituído por uma doutrina pagã.
Uma das poucas ideias novas do período grego (helenismo), que sobreviveu para entrar na corrente principal do judaísmo foi a crença na imortalidade da alma.
Na concepção mais antiga, vista abundantemente na Escritura hebraica, cada individuo é um todo indivisível, um nephesh hayyah. Todo o destino dos seres humanos se cumpre aqui na terra, ao morrer, eles vão para o sombrio mundo inferior, o sheol (sepultura), onde ficam para sempre.
Essa concepção era mais ou menos dominante até o período intertestamentário.
A afirmação da imortalidade da alma no cânone judeu aparece mais tarde, em Daniel (Dn 12.2), escrito na Palestina perto do ano 164a.C.
Portanto, a crença de que o homem tem uma alma imortal que habita apenas temporariamente o seu corpo chegou ao judaísmo através da filosofia grega (Platão) e se reflete em vários escritos de influência helênica. Nessa concepção, o corpo é um mero vaso de argila, indigno de seu inquilino espiritual. Esse dualismo, estava com certeza ausente da crença dos antigos israelita.