domingo, 30 de dezembro de 2012

Teólogos papagaio de pirata


Geralmente, papagaios repetem boa parte das palavras que mais dizemos. Estudos mostram que papagaios podem aprender várias palavras, assobios e outros sons. Eles não são inteligentes, os chamaria de receptivos.

Quando resolvi estudar teologia. Fui para o Seminário Teológico Batista em São Paulo. Confesso, tive professores impressionantes – não dá para mensurar este adjetivo. Infelizmente, alguns nem sei por que estavam lá – talvez para testar minha paciência. Porém, insisti e me formei em teologia.

Aulas sempre são aulas. A história da teologia toma conta de grande parte do conteúdo, isto é informação. Somente aqueles excelentes professores – que não estão ali apenas para conseguir sustento, ainda que faça parte – conseguem conduzir os alunos rumo à instrução.

Todavia, percebi que muitos alunos se alegravam mais com as informações (repetições de pensamentos de teólogos) do que em serem instruídos ao pensamento teológico. Nisso surge minha analogia de teólogos como papagaio de pirata. Por que papagaio de pirata? O teólogo hoje vive sobre o ombro de uma denominação a repetir o pensamento de teólogos de fama. Eu sempre questionei: por que chamar de teologia o que muitas vezes é reflexão pastoral?

Parece que aprender a repetir dá um ar de grandiosidade – no caso do papagaio, esse sentimento fica com seu dono.

Muitos dos alunos que conheci, durante minha caminhada de aluno, também aprenderam a arte da repetição. A repetição soa como a sabedoria verdadeira. Quando estes colegas pregavam ou ensinavam em suas igrejas e conferências, sentia-se neles o ar de superioridade. Porém, repetir não é saber. Repetir é papagaiar, tagarelar.

Teologar não é meramente repetir o que outros teólogos disseram. Fazer teologia não é apenas encher-se de informações antigas de teólogos do passado. Precisa haver mais instrução do que informação. Informação pode até conduzir à formação, mas apenas a instrução gera transformação. Uma mente teológica, apenas, pode superar o falatório, e pensar por si mesma.

O teólogo que preza ser chamado teólogo, não se sustenta apenas em concordar com o passado – ainda que respeite o passado. Ele sempre busca por si mesmo, mesmo que chegue ao mesmo lugar já chegado anteriormente por outros. Ainda há mais para pensar, há mais para saber. Essa busca constante faz parte do ser teólogo.

Para ilustrar, comparo o verdadeiro teólogo com o personagem do seriado de televisão dos anos 70, “Tenente Columbo”. Lembra dele? O teólogo tem que incomodar ser persistente, investigativo, questionador e  ser crítico. Sabe por quê? O teólogo tem que descobrir e saber interpretar (hermenêutica) e não um mero repetidor tagarela.

Onde há teólogos verdadeiros e autênticos há incomodo e mal-estar para muita gente. O autêntico teólogo não se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo papagaio de pirata e nem faz teologia de corte, apenas repetindo frases de efeito para agradar a cúpula da igreja, ou melhor, para não ferir as normas, os dogmas e as doutrinas.

Ter ares de sabedor por repetir informações não faz de alguém um teólogo – talvez um papagaio. Um teólogo talvez não seja feito pelo que recebe de informações. Mas sua capacidade em perceber instruções mesmo nas informações. Questionar dogmas. Enfrentar a hipocrisia. Não tolerar a letargia epistemológica. Fugir à mera gnose espiritualista. Pensamentos por mais belos e corretos que sejam ainda são pensamentos, e sempre podem ser repensados, questionados.

Repensar. Esta é uma capacidade que, particularmente, entendo, deve ser cultivada pelo teólogo. Sempre repensar o que já foi dito e escrito por outros teólogos - também outros estudiosos de outras áreas do saber. Apenas isso distancia um teólogo de um papagaio. Aprende que as informações são úteis, apenas se a instrução fizer parte delas. O passado auxilia. No entanto, o teólogo não vive no e nem do passado. É um ser do presente. Que enfrenta problemas presentes com pessoas presentes e reais, numa igreja atual. Portanto, pensar para hoje, isso faz um teólogo, que me parece não apenas ser feito por si, mas por todos aqueles que junto a ele compartilham a graça de crescer no conhecimento e na prática da vontade do Criador.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Pobres profetas


Eles já tiveram status de primeira grandeza na Bíblia; não andavam de automóvel último tipo e não possuíam grandes aeronaves (como alguns nossos contemporâneos). Caminhavam com passos cansados. Uns eram medrosos, outros, tão angustiados que se escondiam em cavernas... Porém, todos, tinham algo em comum, eram genuínos, autênticos. Nem precisava se auto-proclamarem profetas, pois tal qualidade lhes era tão peculiar que saltava aos olhos. Primavam pela humildade ao invés da arrogância. De fato eram apenas instrumentos d’Ele.

Hoje também há profetas (dizem), mas quem sabe? Quem atirará a primeira pedra? Profetas profanadores... alquimistas da palavra não escrita.

Há profetas...? Homens que se vestem de santidade – profetas boquirrotos. Pilhadores da fé alheia, depenadores de incautos, incultos.

Profetas gritadores, gritalhões; plantadores de verbos malfeitos, advérbios imperfeitos, substantivos nada substanciais.

Eles sobejam, bafejam “anjos”, trafegam pelas vias celestiais do inusitado, trazendo para a espantada platéia a cura – cura pelo vento: vento de doutrina, de falsos ensinamentos. Eles curam! Curam? Sim, eles curam doenças imaginárias – imaginadas por eles. Enfermidades subjetivas, que se encontram no recôndito invisível das entranhas: veias entupidas, rins “estragados”, vesículas carcomidas, câncer não diagnosticados. Curam tudo...

Eles libertam... de todos os demônios: do colesterol, do álcool, da prostituição, da depressão, da loucura, do triglicérides, do ácido úrico. Amarram, expelem, algemam, prendem. Não, não prendem. Eles dialogam com as entidades, num clima de quase respeito, quase camaradagem, velhos conhecidos...

Os profetas fazem tudo: pregam (histrionicamente), ministram (insanamente), derrubam (espantosamente) e gritam (insistentemente).

Só lhes falta uma única qualidade, uma somente: eles desconhecem a graça, como dom gratuito do Soberano. Assim, eles vendem a ideia da salvação ministrada por eles, porque eles são o canal, eles os intermediadores, eles fazem e eles acontecem.

Serão eles autênticos profetas?




Quer ser um pregador de sucesso?


Chegou o manual que ensina como vencer sem muito esforço, com simples passos para iniciantes na arte de gritar. Esqueça os esquemas fracassados de mensagem expositiva. Esqueça aquelas mensagens que reflete profundamente em um texto da Bíblia, isso é coisa de quem ainda não participou do reteté.


- Grite o mais alto que você puder. Diga que gosta é de ver caixas de som estourando!
- Critique quem ouse não gritar como você. Critique aqueles que não fazem o papel de papagaio das suas apresentações. Chame essas pessoas de “boca de ferro”, “lábios de aço”, “garganta de chumbo”.
- Não prepare sermão. Nada de ler a Bíblia e estudá-la. Chegue ao local para pregar e diga que não gosta de esboços e prefere ser “guiado pelo Espírito Santo”. Faça até melhor: Diga que preparou uma mensagem, mas que está sendo guiado para outra mais inspirada.
- Assista todos os DVDs daquele congresso inspirador que acontece em um balneário de Santa Catarina. Nesse congresso vão sempre os “supra-sumos” da pregação gritaral. Procure imitar cada passo que você vê nesses pregadores dos DVDs.


- Compre um CD com aquelas músicas que tocam ao fundo das pregações daquele congresso acima citado. Você verá como vai ficar bem parecido com seus ídolos.
- Aliás, não deixe de gravar DVDs e coloque na capa o título nada modesto de “conferencista internacional”. Lembre, que aquela viagem com os muambeiros paraguaios já faz com que você torne-se uma estrela internacionalmente conhecida.
- Assista desenhos animados japoneses, pois aqueles personagens ensinam alguns golpes que você pode imitar no púlpito. Mas não pronuncie aquelas palavras japonesas, diga que é “poder de Deus”.
- Não leia a Bíblia e nem estude as Sagradas Escrituras, pois você já sabe que a “letra mata”, mas apesar disso, compre um diploma de doutor em divindade por dois mil reais nessas faculdades fajutas que anunciam na internet. Nada de perde quatro anos num banco de faculdade de teologia!
- Cite a Bíblia nas suas pregações, mas não precisa se preocupar com correta interpretação. Espiritualize todas as suas interpretações que você inventará na hora.
- Conte muitos testemunhos e tristemunhos. Conte aqueles milagres espetaculares que aconteceram no seu ministério, quando você pregou do outro lado do país. Tome todo o tempo com essas histórias impactantes e comoventes. Aliás, sempre fale com muita emoção na voz.
O “Ministério da Palavra” adverte: Esse manual causa problemas na vida de um pregador que queira ser fiel a Deus. Portanto, faça tudo ao contrário dessas regras. Persistindo os sintomas, procure um psiquiatra mais próximo de você.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O céu na mente primitiva

Houve um tempo em que as pessoas olhavam para o céu e pensavam que o que viam era a parte de baixo do assoalho do mundo dos deuses. E entenda isso literalmente.

Era como se o céu fosse o teto do seu apartamento; o vizinho do andar de cima seria um deus.

Até hoje as religiões cristãs, por exemplo, mantém um vínculo bastante estreito com essa visão pré-histórica da realidade. Da sua principal oração, “pai nosso, que estais no céu”; passando por frases litúrgicas, “Hosana nas alturas”, “corações ao alto”; por todas as alusões presentes no seu livro sagrado, com Jesus “subindo aos céus” depois da ressurreição, ou de lá “descendo” no dia do Juízo; até cacoetes indisfarçáveis, como o de elevar na direção das nuvens mãos postas e olhos suplicantes, tudo isso ilustra a estagnação de uma parte bastante significativa da mente religiosa, presa há um tempo em que as pessoas morriam velhas com menos compreensão do mundo do que têm, hoje, crianças de nove, dez anos de idade.

Nossos mais longínquos antepassados, pelo menos, estão justificados do seu equívoco: os sentidos eram suas únicas fontes de informação. E eles viam cair coisas lá de cima, como chuva, neve, granizo, raios, meteoritos; ouviam trovões e contemplavam relâmpagos; admiravam-se do globo incandescente que tudo iluminava durante o dia, e daqueles pontinhos brilhantes, também lá no alto, à noite; além daquele outro disco de luz mais branda, que mudava de forma de tempos em tempos, e que, às vezes, simplesmente desaparecia do céu noturno, deixando-os todos entregues à escuridão.

Deveria, então, haver alguém ali em cima. Senão, como se justificaria tudo aquilo?
Eles não tinham nada mais com o que contar além da própria imaginação.
Hoje, mesmo com todo o conhecimento já acumulado pela humanidade, e com a relativa facilidade de acesso a ele, o fato de que ainda existam pessoas que acreditam que deuses ocupam um mundo sobrenatural no “andar de cima”, cujo céu é o piso que se abrirá, um dia, e por onde elas entrarão nesse reino encantado, não é tão embasbacante quanto a constatação de que essas pessoas são a grande maioria de nós.

Estela suméria 2300a.C.
reverência ao céu e aos astros
A razão para isso, entretanto, tem duas faces bem definidas e bem conhecidas. A primeira, a necessidade inata do ser humano de entender o mundo à sua volta e de não aceitar a morte como seu próprio fim, o que acabou nos tornando exímios criadores de mitos. A segunda, a oportunidade que vários espertalhões aproveitaram de, usando esses mitos, subjugarem aldeias, tribos e nações com pouquíssimo esforço; e, como se isso já não fosse muito, de tornarem-se ricos, influentes e poderosos vendendo uma ilusão.

São as religiões que fomentam, motivam e promovem tal estado autoinduzido de abestalhamento hipnótico coletivo, de ignorância voluntária, de raciocínio surpreso e de satisfação fingida, causando esse distúrbio mental — essa doença — em que o cérebro de um ser humano do século XXI não consegue assimilar plenamente o seu próprio tempo, absorto que está nesse sonho antigo de importância, imponência e imortalidade.

Essas mentes pré-históricas estão necrosadas num passado absurdamente remoto, quando a humanidade dormia ao relento, fugia de feras e se alimentava do que encontrasse pelas savanas da África; uma humanidade indefesa e ingênua que, de tão temerosa dos perigos das trevas da noite, passou a adorar, embevecidamente fascinada, o brilho ofuscante do primeiro de tantos outros deuses que ainda iria criar: o Sol.


Neste blog você irá encontrar uma reunião de informações dos mais diferentes seguimentos do saber, das ciências e das artes.
Espero que gostem, aguardo seus comentários e sugestões. Z3fatosemfoco@gmail.com